I - Introdução
Tentar-se-à mostrar nesta
obra uma pesquisa ampla, milimétricamente detalhada, com a preocupação com os
menores detalhes, os mais ínfimos dados sobra os assuntos aqui abordados: o
Romantismo, o Modernismo, o Realismo, o Simbolismo, o Parnasianismo e o
Concretismo. Dando uma ênfase ao abordar dados referentes a passagem dessas
épocas literárias no Brasil, referindo-se também a autores consagrados de todas
as épocas.
Mostrar-se-à
uma síntese literária de épocas e assuntos pesquisados em alguns livros,
almanaques, enciclopédias. Revelando não só sobre a literatura mas a arte em
geral, falando sobre as artes plásticas, o teatro, a música, mas é claro,
principalmente, o enfoque é a literatura.
II – Desenvolvimento
2.1 – Romantismo
Impetuoso e vital, o romantismo surgiu como um
movimento que privilegiava a subjetividade individual, em oposição à estética
racionalista clássica, e representou a exaltação do homem, da natureza e do
belo.
Dá-se o nome de romantismo à
tendência estética e filosófica que dominou todas as áreas de pensamento e
criação artística de meados do século XVIII a meados do XIX. Como expressão do
espírito de rebeldia, liberdade e independência, o romantismo propôs-se a
descortinar o misterioso, o irracional e o imaginativo na vida humana, assim
como explorar domínios desconhecidos para libertar a fantasia e a emoção,
reencontrar a natureza e o passado.
O qualificativo
"romântico" começou a ser usado, em inglês e francês, no século XVII,
no sentido de "relativo a narrativa imaginosa", e aplicava-se a um
tipo de forma poética -- o roman ou romant --, herdeira dos romances medievais
e dos contos e baladas que floresceram na Europa nos séculos XI e XII. O
fascínio pelo misterioso e sobrenatural e a atmosfera de fantasia e heroísmo
que dominavam essas composições ampliaram o sentido do qualificativo, que, símbolo
de uma nova estética, encontrou suas primeiras manifestações, eminentemente
literárias, nos movimentos pré-românticos britânicos e alemães. A partir do
fracasso das revoluções políticas de 1848 no continente, seus postulados
entraram em decadência e o movimento terminou por se desagregar em ecletismo.
A importância subjetiva da
arte e das ciências no Ocidente acentuou-se a partir do declínio da sociedade
medieval, estruturada sobre os dogmas da religião. A comprovação científica dos
fatos substituiu o estabelecimento dogmático das verdades e o culto à arte
tornou-se uma das principais alternativas de expressão da espiritualidade entre
os intelectuais ocidentais. Filósofos e artistas como Hegel e Berlioz afirmaram
que, para eles, a arte era uma religião. No período romântico, esse fervor
aliou-se ao amor, à natureza e à idolatria de homens de gênio, cujo primeiro
objeto foi Napoleão.
A mentalidade do homem do
século XX formou-se com a marca dessas grandes rupturas explicitadas pelo
romantismo. A reivindicação de total liberdade criadora e de expressão para o
artista; a idéia da "arte pela arte", como depositária de verdades
que não podiam ser contaminadas por interesses econômicos, políticos ou
sociais; a ética do artista, que deveria agir de acordo com aquilo que sentia
ser necessário comunicar aos outros homens; o desprezo pelas conveniências,
pelo utilitarismo, pela monotonia da vida diária, são idéias já expressas em
1835 por Gautier, poeta romântico, no prefácio à novela Mademoiselle de Maupin
e que, no final do século XX, norteavam ainda a identidade social do gênio
artístico.
2.1.1 - Literatura
O romantismo elevou a figura
do poeta a um papel central de profeta e visionário. A apreensão da verdade
deveria se dar diretamente a partir da experiência sensorial e emocional do
escritor; a imitação dos modelos clássicos foi abandonada. São criações
românticas o mito do artista e do amante incompreendidos e rejeitados pela
sociedade ou pela amada.
Denominou-se Sturm und Drang
(tempestade e tensão) o movimento pré-romântico entre 1770 e 1780, que
propiciou as bases para o desenvolvimento do novo estilo, na Alemanha e depois
no resto do mundo. Na fase inicial, Jean Paul, pseudônimo de Johann Paul
Richter, festejado pelo público, lançou Vorschule der Aesthetik (1804; Noções
fundamentais de estética), tratado em que criticava Kant e Schiller. Sua obra
literária conjugava sentimentalismo, elementos góticos, digressões
moralizantes, meditações religiosas e filosóficas, pseudocientificismo e
humorismo. Johann Wolfgang von Goethe -- que escreveu Die Leiden des jungen
Werthers (1774; Os sofrimentos do jovem Werther), livro que foi acusado, na
época, de induzir ao suicídio vários jovens -- encabeçou toda uma geração de
bons autores, que incluiu Ludwig Tieck, Novalis, Friedrich Hölderlin e Wilhelm
Heinrich Wackenroder. Uma das figuras importantes do movimento foi Friedrich
von Schlegel, de formação classicista, que concebeu uma Grécia dionisíaca, numa
antecipação das idéias de Nietzsche. Seu romance libertino Lucinde (1799)
causou grande escândalo, mas o autor foi posteriormente considerado o maior
teórico do romantismo alemão.
Importância de Shakespeare
O crítico e dramaturgo alemão Gotthold Ephraim
Lessing foi um dos primeiros a recomendar aos britânicos que tomassem
Shakespeare -- cuja obra data do século XVI e tipifica o direito do artista
criativo de inventar suas próprias formas e ultrapassar qualquer cânone
estético ou técnico -- como modelo para uma literatura nacional. A obra
shakespeariana influenciou românticos de todas as nacionalidades. Embora não
negassem o perigo da liberdade excessiva, os românticos não pretendiam uma
fórmula de sucesso, mas valorizavam a exploração, a invenção e a multiplicidade
das emoções e verdades que levariam à revigoração uma cultura decadente. O
dramaturgo inglês representava também a possibilidade de quebrar a hegemonia da
tragédia francesa na Europa e, com ela, a tirania cultural exercida pela
França.
A literatura romântica
britânica prenunciou-se na novela gótica, iniciada com o famoso The Castle of
Otranto, (1765; O castelo de Otranto) de Horace Walpole. As reconstruções de
ambientes medievais, os cenários históricos e exóticos e a revalorização do
lúgubre nessas obras definiram alguns dos traços do romantismo. Os romances históricos
de Walter Scott transcenderam as fronteiras britânicas. Ambientados na Escócia
medieval, ilustram a extensão da curiosidade romântica pelo incomum, já que a
Escócia era vista como um lugar selvagem, fora dos centros civilizados, e a
Idade Média, como um período igualmente bárbaro e distanciado no tempo. William
Wordsworth e Samuel Taylor Coleridge criaram uma teoria poética baseada no
livre fluxo das emoções intensas e na fantasia, que norteou a produção de John
Keats, Percy Shelley e Lord Byron.
Na França, o gosto romântico
pelo selvagem e o primitivo foi antecipado por Jean-Jacques Rousseau, que
defendia um modo de vida natural, sem a influência alienante da civilização.
Madame de Staël, que realizou um retrato idealizado da Alemanha em De l'Allemagne
(1813; Da Alemanha), e François Chateaubriand, cuja obra Le Génie du
christianisme (1802; O gênio do cristianismo) não impediu as dúvidas acerca de
seu espírito católico, foram considerados os primeiros escritores românticos do
país.
Na França a classificação do
vocabulário em "nobre" e "comum" -- ou seja, impróprio para
a poesia -- estava firmemente estabelecida, inclusive em dicionários. Os
românticos, liderados por Victor Hugo, usavam as palavras proibidas sempre que
possível e a estréia de Hernani, de Hugo, em 1830, causou por isso grande
escândalo. Seu prefácio ao drama Cromwell (1827) constitui verdadeiro manifesto
literário. Dentre seus principais romances destacam-se Notre-Dame de Paris
(1831) e Les Misérables (1862; Os miseráveis).
Na Rússia, Espanha e
Polônia, a literatura romântica também se desenvolveu. Na Itália, Portugal e
Estados Unidos, o movimento teve forte caráter nacionalista.
2.1.2 – Teatro
A expressão Sturm und Drang,
que designou o movimento pré-romântico alemão, foi retirada do título de uma
peça de Friedrich Maximilian von Klinger Der Wirrwarr, oder Sturm und Drang
(1776; Confusão, ou tempestade e tensão). No entanto, no efervescente clima
romântico, a produção teatral não passou de alguns poucos trabalhos isolados,
de Shelley, Byron e, mais notavelmente, de Heinrich von Kleist. Ironicamente, o
novo papel de Shakespeare como emancipador produziu uma paralisia na criação
dramática até meados do século XIX. Os poetas ingleses, sobretudo, sucederam-se
em tentativas frustradas de produção teatral, intimidados pelo gênio do
passado.
2.1.3 –
Artes plásticas
2.1.3.1 – Arquitetura
Na esteira do nacionalismo
que ressurgiu em toda a Europa, cada país buscou as próprias raízes. A
arquitetura romântica abandonou os ideais clássicos e recriou estilos da Idade
Média, principalmente o gótico, por sua exaltação espiritual. Construíram-se
edifícios neogóticos, neo-românicos, neobizantinos, e mesclaram-se estilos,
numa reprodução dos cenários dos romances históricos. O neogótico
desenvolveu-se principalmente no Reino Unido, onde se transformou em estilo
oficial.
Entre os monumentos do
período destaca-se o Parlamento de Westminster, projeto de Sir Charles Barry e
Augustus Welby Northmore Pugin. Na França merecem menção a obra neogótica de
Viollet-le-Duc, restaurador de monumentos medievais, e o grandioso edifício
eclético da Ópera de Paris, de Jean-Louis Charles Garnier. Os mais consagrados
monumentos românticos da Alemanha são as catedrais neogóticas de Estrasburgo e
Colônia.
Uma nova arquitetura surgiu
na construção de estradas. Túneis, pontes e terminais foram concebidos sob a
pressão dos novos problemas relativos à topografia e velocidade dos veículos. O
notável uso feito do concreto e do aço inspirou a arquitetura do século XX.
2.1.3.2 – Pintura
A visualização dos
sentimentos dos personagens retratados e a expressividade das paisagens foram a
tônica da pintura romântica, que exaltou o passional e destacou a morte e a
loucura como o fatal destino do homem. Priorizou a intimidade do indivíduo e o confronto
com o desconhecido e o misterioso na busca do sentido da vida. A visão trágica
do homem imerso na natureza poderosa e imponente trouxe a idéia do
"sublime".
O Reino Unido teve dois
paisagistas românticos magistrais. John Constable pintou paisagens com cores
vívidas, inaceitáveis para o gosto da época. William Turner antecipou o
impressionismo em seu trabalho com as cores e, como Constable, incorporou a
técnica da aquarela a seus quadros a óleo. William Blake, poeta e pintor do
fantástico e visionário, elaborou uma cosmologia própria baseada em mitos
cristãos e utilizou primorosa técnica de aquarela. Contra a visão clássica de
que a mais elevada forma de pintura deveria descrever a verdade mais
abrangente, Blake afirmou: "Particularizar é o único mérito."
Em 1824, a exposição de
paisagens britânicas no Salão de Paris serviu de marcante inspiração aos
artistas franceses. Eugène Delacroix é considerado o principal pintor romântico
francês. Com cores fortes e vivas e pinceladas livres e pastosas, Delacroix
criou tonalidades até então desconhecidas e retratou com vívido realismo
episódios literários e históricos de sua época, como "A matança de
Quios", massacre dos camponeses gregos pelos turcos. Fascinava-se com a
vida nômade dos habitantes do deserto no norte da África e outros temas
exóticos para a cultura européia. Théodore Géricault chocou o público
parisiense com "A balsa de Medusa", que retratava os sobreviventes de
um naufrágio ocorrido em 1816, à deriva e à míngua. Realizou também uma série
de retratos de loucos.
A pintura romântica alemã
floresceu nas primeiras décadas do século XIX com as obras dos chamados
nazarenos, alemães radicados em Roma que, com seus temas religiosos,
contribuíram para a propagação do cristianismo. Entre eles, estavam Johann
Friedrich Overbeck, Peter von Cornelius e outros. A paisagem como experiência
grandiosa aparece idealizada nos quadros de Caspar David Friedrich. Ante a
glória de uma natureza misteriosa, com montanhas imensas e planícies desertas,
a mesquinhez do homem.
2.1.4 – Música
O romantismo trouxe grande
mudança para a vida profissional dos músicos, seus instrumentos e a própria
criação musical, que viveu uma época de grande esplendor. Com a formação de um
público urbano burguês, pagante, freqüentador de teatros -- os novos locais de
espetáculo --, os compositores deixaram de trabalhar para a igreja e os
príncipes tornaram-se autônomos, na busca de maior independência em seu
trabalho. Foram inventados novos instrumentos e a orquestra incorporou o
flautim, o corne-inglês, o contrafagote e vários instrumentos de percussão. A
criação de novos elementos formais, as transformações harmônicas e os novos
timbres permitiram a expressão cada vez mais elaborada das emoções, das nuanças
sutis às mais extremadas paixões. O lied, gênero romântico por excelência,
atingiu a máxima pureza melódica e fusão musical entre a voz e o piano nas
peças compostas por Schubert, Schumann, Brahms e Wolf.
O grande gênio romântico foi
Beethoven, iniciador de uma tradição sinfônica grandiosa, que utilizava
seqüências harmônicas inusitadas, de grande impacto aos ouvidos do público da
época, habituado à previsível e equilibrada harmonia clássica. Berlioz criou a
sugestiva sinfonia programática, em que uma idéia extramusical, ligada à ação
dramática, conduz a composição. A instrumentação é utilizada para criar uma
ambientação sonora que pode incluir motivos musicais que representam fatos ou
personagens e até mesmo imitam certos ruídos.
Também na música o
romantismo significou a afirmação da individualidade do artista. Isso se
evidencia nas inúmeras obras para um só intérprete, como as compostas por
Chopin, Liszt e Schumann para piano solo.
A ópera recebeu um impulso
especial com o conceito de Gesamtkunstwerke, a obra de arte total do alemão
Richard Wagner, que tirou as vozes do permanente primeiro plano e fez com que
se inserissem na textura instrumental. Realizou assim o que chamou de melodia
infinita: o recitativo passa à ária por meio de modulações e as cadências só se
completam no final do ato. O italiano Giuseppe Verdi manteve a tradição
italiana de argumentos dramáticos e nacionalistas, em que a arte vocal
sobrepuja a orquestração. Verdi levou o drama romântico a níveis
extraordinários de imaginação melódica, força expressiva e domínio técnico.
A afirmação do subjetivismo
romântico ensejou a formação de escolas nacionais. Na Hungria, Ferenc Erkel,
autor do hino nacional, buscou no folclore os temas para suas óperas. Franz
Liszt, compositor de obras pianísticas, inovou com a sonata de tema único, em
substituição ao "desenvolvimento" clássico, e com o poema sinfônico.
O russo Mikhail Glinka redescobriu cantos e ritmos populares e reintroduziu um
antigo sistema composicional, o modalismo próprio da música sacra eslava de
seus ancestrais.
2.1.5 – Romantismo no Brasil
À época do romantismo
europeu, o Brasil mantinha estruturas de latifúndio, escravismo, economia de
exportação e uma monarquia conservadora, remanescentes do puro colonialismo:
condições socioculturais muito diferentes das encontradas nos países da
vanguarda romântica européia. A partir de 1808, a permanência da corte
portuguesa no Brasil transformou cultural e economicamente a vida da colônia,
com a implantação da imprensa e do ensino universitário. O subseqüente processo
de independência, em 1822, ativou ainda mais a efervescência intelectual e
nacionalista já instalada.
2.1.5.1 – Literatura e teatro
O romantismo brasileiro teve
na literatura sua máxima expressão e assumiu um caráter de verdadeira
revolução, acentuado pelas circunstâncias sociais e políticas peculiares às
primeiras décadas do novo império. Integrou-se também ativamente à agitação
ideológica que precedeu a abolição da escravatura e a proclamação da
república. Apesar das fortes influências
francesas, inglesas e alemãs, o romantismo literário assumiu no país
características próprias: (1) adaptação dos modelos europeus ao ambiente
nacional; (2) introdução de motivos e temas locais, sobretudo indígenas, para a
literatura que devia expressar a nacionalidade; (3) reivindicação do direito a
uma linguagem brasileira; (4) inclusão obrigatória da paisagem física e social
do país, com o enquadramento do regionalismo na literatura; (5) ruptura com os
gêneros neoclássicos e criação de uma literatura autônoma.
Iniciadora do movimento, a
revista Niterói foi fundada em 1836 e editada em Paris por Domingos José
Gonçalves de Magalhães, visconde de Araguaia, autor de Suspiros poéticos e
saudades (1836); e Manuel de Araújo Porto Alegre, barão de Santo Ângelo. As
primeiras obras brasileiras, sob forte influência de Lamartine e dos poetas
alemães, caracterizaram-se pelo nacionalismo e religiosidade.
Joaquim Manuel de Macedo,
com A moreninha (1844), é considerado o iniciador do romance brasileiro. Manuel
Antônio de Almeida publicou sob pseudônimo o romance mais despojado e
resistente do período romântico: Memórias de um sargento de milícias
(1854-1855). Típico romance de costumes, que ocupa posição única e destoa da
produção literária da época, teve sua importância resgatada pelos modernistas. O
romancista José de Alencar, grande teórico e propugnador de uma linguagem
brasileira, estimulou a renovação, a valorização dos temas e motivos locais,
não só indígenas, como em O guarani (1857) e Iracema (1865), mas igualmente
históricos e regionais, como em As minas de prata (1865), O gaúcho (1870), O
sertanejo (1876). O regionalismo foi representado sobretudo na obra de Bernardo
Guimarães, com O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875), e Alfredo
Taunay, com Inocência (1872).
Antônio Gonçalves Dias é considerado
o maior poeta romântico brasileiro. Sua vasta e multiforme obra compreende a
poesia lírica e intimista de Primeiros cantos (1847) e Segundos cantos (1848),
e outras, de caráter medieval, como as Sextilhas de frei Antão (1848).
Seguiu-se um período de individualismo subjetivista e angústia existencial, de
amores contrariados e tédio. Transparece na produção dos jovens poetas a
influência do "mal do século", do satanismo de Byron, da melancolia
de Musset e do amargo pessimismo de Leopardi e Espronceda. A Lira dos vinte
anos (1853, póstumo), de Álvares de Azevedo, é obra típica desse romantismo em
que predominava a idéia da morte prematura, que realmente atingiu seus
representantes. Mesmo Casimiro de Abreu, que cantou em As primaveras (1859) a
vida, a força da juventude e a natureza, morreu jovem como os demais. Fagundes
Varela, autor de Cantos e fantasias (1866) e Cantos meridionais (1869),
dispersou seu talento na boêmia e na vida desregrada e inconstante.
O último período teve como
paradigma a poesia dita "condoreira", de versos grandiloqüentes,
inspirada em Victor Hugo. Manifestou-se primeiramente no agitado ambiente da
Faculdade de Direito do Recife, de onde se difundiu para todo o país.
Caracterizou-se por temas sociopolíticos e patrióticos e idéias igualitárias.
Invadiu salões, ruas, praças e teatros e proporcionou às platéias animados
duelos declamatórios. Os intelectuais, empolgados pelas campanhas da guerra do
Paraguai, da abolição e da república, ansiavam por transformações liberais e
democráticas como as que ocorriam na Europa. Dominou a cena Antônio de Castro
Alves, com uma obra lírica e combativa, em que se destacam Espumas flutuantes
(1870) e Os escravos (1883, póstumo). O movimento se prolongou até a década de
1880, quando foi eclipsado pelo parnasianismo e pelo realismo. Ainda nas
primeiras décadas do século XX, no entanto, registraram-se algumas
manifestações extemporâneas do estilo.
Gonçalves Dias foi o mais
importante autor teatral brasileiro do final do século XIX. Embora inferior a sua
produção poética, sua dramaturgia adquiriu alguma importância histórica em meio
à fraca produção romântica do teatro nacional.
2.1.5.2 – Música
Ao lado da literatura, a
música brasileira expressou as principais características do movimento
romântico mundial, ligadas sobretudo ao nacionalismo e à afirmação da
identidade cultural. Carlos Gomes foi o principal compositor romântico do país.
Suas obras, que denotam forte influência da música italiana, então dominante,
apresentam traços tipicamente brasileiros. A maior parte dos músicos da época
buscou a valorização de elementos nacionalistas, embora a formação do
compositor erudito no Brasil dependesse ainda completamente das escolas
européias. Isso muitas vezes resultou apenas em abordar temas folclóricos nativos
numa linguagem musical francesa ou alemã.
Na virada do século, o
nacionalismo iniciado com o movimento romântico expressou-se mais fortemente na
obra de Alberto Nepomuceno e Antônio Francisco Braga e, já em pleno século XX,
configurou-se como a mais importante e autônoma tendência estética da história
da música erudita no país. Destacaram-se compositores como Henrique Oswald,
Leopoldo Miguez, Francisco Mignone e, sobretudo Heitor Villa-Lobos,
internacionalmente reconhecido.
2.2 – Modernismo
A Semana de Arte Moderna , realizada em fevereiro de 1922, inaugura a
primeira fase do modernismo brasileiro. Sob as vaias e desconfianças de um
público conservador, os modernistas ridicularizam o parnasianismo e apresentam
novas concepções estéticas marcando uma ruptura definitiva com a arte
tradicional, o que já vinha sendo preparado desde a década anterior.
Embora não tenha participado
diretamente, Manoel Bandeira teve um dos seus poemas lido numa das noites da
Semana. Trata-se de “Os
Sapos”, escrito em 1918 e publicado em 1919, no qual afinava-se com o
espírito demolidor e renovador dos modernistas.
2.2.1 –
Contexto histórico
As manifestações do período
conhecido como Pré-modernismo, foram
marcadas por revoltas, intervenções militares e inúmeras greves operárias.
Nesse clima, Minas e São Paulo iam repartindo o poder, desfavorecendo as
camadas empobrecidas da classe média e as classes trabalhadoras urbanas e
rurais.
À época da Semana de Arte Moderna, o quadro geral
brasileiro era de crises sucessivas, que
acabaram por gerar a Revolução de 1930.
O governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) fora combatido pela própria classe
dominante, contrariada por sua negação em continuar subsidiando o café,
preferindo favorecer a indústria. Em 1922, por ser “a vez” de Minas, Arthur
Bernardes é indicado e eleito para presidir a República, vivendo o
país, a partir de então, em estado de sítio sob regime policial. No mesmo ano,
oficiais e militares rebelaram-se contra o governo, dando origem ao episódio
dos 18
“do Forte”, quando quatro tenentes e catorze soldados do Forte de Copacabana enfrentaram as
tropas governistas na praia de Copacabana, com a morte do civil, de dois
tenentes e dos catorze soldados.
Em 1924, ocorre outro
levante militar, continuidade do tenentismo.
Cria-se a Coluna Prestes, que, entre
abril de 1925 e fevereiro de 1927, percorreu 24 mil quilômetros, travando
combates com forças governistas e jagunços contratados pelos “coronéis”. Em 1929, seus principais
líderes exilaram-se na Bolívia, e Luís Carlos Prestes declarou que a
luta não tinha mais sentido, pois Arthur Bernardes já não governava.
Em 1930, uma revolução
conduz Getúlio Vargas ao poder, substituindo Washington Luís e dando
início a uma nova fase da história do Brasil..
Entre 1922 e 1930, temos a
primeira fase do Modernismo brasileiro. É claro que essa divisão obedece a
critérios apenas didáticos. Os
escritores desse período continuariam a produzir depois de 1930, e nos ano da
primeira fase convivem em tendências opostas, algumas já manifestadas anteriormente
e que se prolonga depois de 30. Com relação a essa divisão, observe o
comentário de Mário de Andrade: “ Mil novecentos e trinta... Tudo estourava,
políticas, famílias, casais de artistas, amizades profundas. O sentido
destrutivo e festeiro do movimento modernista já não tinha mais razão de ser,
cumprido o seu destino legítimo. Na rua, o povo amotinado gritava: - Getúlio!
Getúlio!...”
Em 1930, têm início os
quinze anos da ditadura de Getúlio Vargas. A primeira reação armada contra o regime deu-se em 1932,
com o Movimento Constitucionalista de São Paulo, derrotado em dois meses pela
superioridade das tropas federais. Entretanto, os revolucionários paulistas
alcançaram um dos seus objetivos: a convocação de uma Assembléia Constituinte,
que elaborou a Constituição de 34. Essa Constituição de caráter liberal e
nacionalista, teve vida curta. Getúlio, com um novo golpe, impôs
novo texto constitucional em 1937. Além disso o governo enfrentaria a Intentona
Comunista, como ficou conhecido o movimento de revolta contra o governo, em
1935, liderado por Luís Carlos Prestes.
Os comunistas e os
integralistas seriam, mais tarde, os grupos que dariam o pretexto a Vargas
para o golpe de estado em 1937.
O Integralismo, movimento de
conteúdo nazi-facista, liderado por Plínio Salgado, tem sido apontado
como responsável indireto pelo golpe de 37. Os integralistas, que tinham como
lema “Deus, Pátria e Família”, elaboraram um falso plano de subversão comunista
(o plano Cohen), e Getúlio,
utilizando-se desse documento, deu o golpe que instaurou o Estado Novo. Os
líderes comunistas foram presos, o Senado e a Câmara, fechados e o novo texto
constitucional, imposto à nação.
Em 1939, Getúlio
criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura aos meios
de comunicação.
Com o objetivo de obter
apoio junto às massas, Getúlio toma uma série de medidas,
configurando um estilo político ao qual foi dado o nome populismo. O país é dotado de uma legislação trabalhista e
previdenciária, decreta-se o salário mínimo e adotam-se providências para a
criação de um partido trabalhista.
Em 1944, é decretada a
anistia para os presos políticos e são convocadas eleições para dezembro de
1945. Porém, as suspeitas de um novo golpe getulista, naquele ano, provocam o
descontentamento dos militares, que num movimento liderado pelo general Góis
Monteiro, depõem o ditador.
No Brasil, o período que se
estende de 1945 a 1985 é marcado por uma série de fatos que causaram profundas
transformações e alguns traumas na sociedade brasileira.
Esse período pode ser assim
dividido:
a) Da queda de Getúlio aos anos JK (1945-1956)
Em 1945, Getúlio
Vargas é deposto, depois de
quinze anos de governo ditatorial. No ano seguinte , o general Eurico
Gaspar Dutra assume a presidência, aleito pelo voto direto. Promulga-se
uma nova Constituição, e o país retorna aos princípios democráticos.
Embora deposto, Getúlio
mantém o seu prestígio popular e vence as eleições de 1950. A forte oposição ao
seu governo, liderada por Carlos Lacerda, e a exigência de sua
renúncia, feita pelos militares, levam-no ao suicídio, na madrugada de 24 de
agosto de 1954. João Café Filho assume o poder.
b) Os anos JK (1956-1960)
Juscelino Kubitschek de
Oliveira,
depois de assumir o poder, em janeiro de 1956, dá início ao seu projeto de
realizar “cinqüenta anos em cinco”: constrói hidrelétricas e estradas;
incentiva a instalação de fábricas de automóveis, aviões e navios e constrói
Brasília, para onde mudaria a capital do país em 1960.
O clima democrático,
renovador e moderno do seu governo favorece as artes: surgem a Bossa Nova e o
Cinema Novo, o teatro passa por profundas transformações, com o trabalho
desenvolvido pelo Teatro de Arena e pelo Teatro Brasileiro de Comédia.
Paralelamente, a literatura renove-se, sobretudo com Clarisse Lispector e Guimarães
Rosa. É também um grande momento da crônica, com Fernando Sabino, Rubem
Braga, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade. O Brasil
vive momentos de alegria: Éder Jofre torna-se campeão mundial
de boxe, Maria Ester Bueno destaca-se no tênis internacional
e o Brasil ganha a Copa do Mundo de 58.
Em 31 de janeiro de 1961, Juscelino
passa a faixa presidencial para Jânio Quadros.
c) Jânio, Jango e a ditadura (1961-1964)
Jânio Quadros assume o poder em janeiro
de 1961 e renuncia sete meses depois, em 25 de agosto. Depois de muitas
negociações entre políticos e militares, João Goulart (ou Jango, como era
conhecido) assume o governo, sob o sistema parlamentarista, o qual limitava
enormemente os seus poderes, pois a chefia do Executivo ficava a cargo do primeiro-ministro
e do Conselho de Ministros, restando ao presidente apenas a função de chefe de
Estado.
Com o fim do regime
parlamentarista, em 1963, João Goulart resolve tomar medidas
de caráter econômico e social, entre elas a regulamentação da remessa de lucros
para o exterior, o projeto de reforma agrária, a nacionalização das refinarias
de petróleo e a encampação de algumas empresas multinacionais que operavam no
Brasil. Um golpe militar, em 1º de abril de 1964, financiado pelos Estados
Unidos e por grupos de empresários latifundiários brasileiros, depõe o
presidente. Uma junta militar assume o poder e impõe ao Congresso Nacional o
nome do general Humberto de Alencar Castelo Branco para a presidência da
República.
d)Os anos de autoritarismo (1964-1984)
Nos vinte anos que sucederam
o golpe de 64, o Brasil foi governado por militares: Castelo Branco (64-67); Costa
e Silva (67-69); Garrastazu Médici (69-74); Ernesto
Geisel (74-79) e João Batista Figueiredo (79-84).
Trata-se de um dos períodos
mais negros de nossa história, em que houve a supressão das liberdades
democráticas, a cassação de mandatos políticos, a censura à impressa e aos
meios de comunicação, o “desaparecimento” ou assassinato de opositores ao
regime e um Congresso controlado e algumas vezes fechado ao contrair as ordens
do governo. Além disso institucionalizaram-se a corrupção e as chamadas
“mordomias” dos políticos e altos funcionários públicos. No plano econômico, a
divida externa do Brasil, que em 1964 era de 3 bilhões de dólares, ultrapassou,
no final de 1984, a casa dos 100 bilhões. A inflação de 1964 que era de 74% ao
ano (o que contribuiu para desestabilizar o governo de João Goulart), atingiu
cerca de 200% em 1984! A insatisfação do povo de dos empresários e a crescente
crise econômica levaram a sucessivas concessões políticas, terminando com a
entrega do poder aos civis.
e) A Nova República (1985-...)
Em 1985, um Colégio
Eleitoral elege para presidir a república o advogado Tancredo de Almeida Neves.
Tancredo falece antes de tomar posse, e em seu lugar assume o vice-presidente, José
Sarney.
Inicialmente impopular e sem
o apoio político expressivo, José Sarney só consegue popularidade
a partir de 1986, ao implantar o Plano Cruzado, que congelou os preços e
salários e introduziu o cruzado como uma nova moeda. Entretanto, sua
popularidade não durou mais que um ano, graças ao fracasso da política
econômica do seu governo.
2.2.2 - PRODUÇÃO LITERÁRIA DA TERCEIRA FASE
1 - Prosa
Em linhas gerais,
verifica-se na prosa posterior a 45:
a) A negação do compromisso com
a narrativa referencial, ligada a acontecimentos e à representação realista da
realidade.
b) O espaço exterior passa para
segundo plano; a narrativa centra-se no espaço central das personagens,
realçando-lhes as características psicológicas em detrimento das
características físicas.
c) Altera-se a linguagem
romanesca tradicional. O texto deixa de ser a narrativa de uma aventura para tornar-se a aventura de uma narrativa. A
continuidade temporal é abalada, desfazendo-se a ordem cronológica e, muitas
vezes, fundindo-se presente, passado e futuro. A experimentação lingüística e
temático formal é levada a extremos. O gênero narrativo deixa-se contaminar
mais por outros gêneros, sendo comum a fusão narração - dissertação.
d) A prosa urbana enfoca o
conflito do indivíduo frente à sociedade, e a prosa regionalista renova a sua
temática e forma de expressão.
e) O afastamento cada vez maior
da verossimilhança faz com que apareça o realismo
fantástico, no qual se acentua a distância entre o estranho e o maravilhoso.
Plena utilização de uma linguagem excessivamente metafórica, o autor procura
muitas vezes analisar a nossa realidade social.
Entre os romancistas
surgidos em 45, destacam-se João Guimarães Rosa e Clarice
Lispector.
2 - Poesia
A partir de 1945, a poesia
brasileira adquire preocupações esteticistas, com a chamada “geração de 45”,
como se autodenominaram os poetas que se agruparam em torno da revista Orfel
e foram editados a coleção Cancioneiro de Orfel, sob a direção de Fernando
Ferreira de Loanda, no Rio de Janeiro.
A “geração de 45” procurou
restaurar a disciplina expressiva, o estudo da poética e a investigação verbal.
Daí a retomada de formas poética tradicionais, sobretudo o soneto. Apesar de
terem retornado também à métrica, não a consideraram obrigatória, sendo
utilizado também o verso livre, agora mais trabalho ritmicamente e sob certo
rigor e preocupação artesanal.
Entre os poetas da “geração
de 45”, destacam-se João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Alphonsus de Guimaraens Filho,
Geir
Campos, Afonso Félix de Sousa e Thiago de Melo.
Paralelamente, esses poetas
foram acompanhados pelos que vinham da geração anterior, como Carlos
Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Cassiano
Ricardo e outros.
A partir de 1950, surgem
novas tendências, como o Concretismo, a Poesia-práxis e o Poema/processo. Na
década de 70, surge a chamada “poesia marginal”, que só a partir da década de
80 começa a ser objeto de apreciações críticas, muito pouco favoráveis.
3 - Teatro
A encenação de Vestido
de noiva, peça de Nelson Rodriges dirigida por Ziembinski,
em 1943, é um marco da renovação do teatro brasileiro. Outro passo dado é com a
fundação, em 1948, do Teatro Brasileiro de Comédia, que tinha como diretores Ziembinski
e Ruggero
Jacobbi. A fundação do Teatro de Arena, em 1953, faz com que apareçam
importantes nomes na dramaturgia nacional, como Gianfrancesco Guarnieri (Eles
não usam black-tie), Oduvaldo Viana Filho (Chapetuba
futebol clube) e Augusto Boal (Revolução na América do Sul).
Na década de 60, surgem o
grupo Opinião, liderado por Denoy de Oliveira, Ferreira
Gullar e Oduvaldo Viana Filho, e o Teatro Oficina, liderado por José
Celso Martinezd'água Correa.
Além dos autores citados,
destacam-se Jorge Andrade (A moratória), Adriano Suassuna (Auto
da Compadecida), Plínio Marcos (Navalha na carne), Dias
Gomes (O bem amado) e Chico
Buarque de Holanda (Gota d’água, em parceria com Paulo
Pontes).
4 - Crônica
A crônica foi um dos gêneros
que mais renovou a partir do final da década de 40, registrando a fala do povo
e sua psicologia e retratando o cotidiano, com humor, ironia e lirismo, numa
perspectiva crítica e reveladora. Destacam-se: Paulo Mendes Campos, Rubem
Braga, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Carlos
Eduardo Novaes, Luís Fernando Veríssimo, Affonso
Romano de Sant’Anna e Lourenço Diaféria, entre outros.
A ficção brasileira encontra
em Guimarães
Rosa um estilo absolutamente novo, sobretudo no que diz respeito ao
tratamento revolucionário da linguagem, rica e inventiva, com vocábulos criados
por afixação, hibridismo, justaposição e aglutinação de palavras, além de uma
sintaxe peculiar, que tem afastado de seus textos o leitor comum.
Embora voltado para o espaço
e as personagens do sertão, Guimarães Rosa soube transcender o mero
regionalismo e dar à sua obra um caráter universal, estando ela toda perpassada
de uma visão metafísica e de indagações que pertencem ao homem de qualquer
tempo e de qualquer região.
Sua obra-prima é o romance Grande
sertão: veredas.
2.2.3 - Contexto Filosófico
Por razões didáticas ,
costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três fases:
Primeira fase( de 1922 a 1930) ou fase heróica: de combate e destruição,
quando ocorre a libertação lingüística e são afirmados os valores estéticos do
movimento;
Segunda fase(de 1930 a 1945) ou fase construtiva: de estabilização das
conquistas, de preocupação social e de tendência introspectiva;
Terceira fase(de 1945 em diante) fase de reflexão: de ponderação sobre a
linguagem, com o retorno a alguns modelos estilísticos tradicionais, ao que se
soma uma temática universalista.
A partir de 1950, surgem
novas tendências em poesia, como o Concretismo,
o Neo-concretismo, a Poesia-práxis e o Poema-processo.
A explosão de fevereiro
Nos dias 13, 15 e 17 de
fevereiro de 1922, com a participação de Oswald de Andrade, Menotti
del Picchia, Mário de Andrade,
Graça Aranha, Guilherme de Almeida,
Ronald de Carvalho, Vítor Brecheret, Anita
Malfatti, Villa-Lobos, Di Cavalcanti e muitos outros, o
Teatro Municipal de São Paulo torna-se o centro de uma verdadeira “atmosfera”
das idéias modernistas: são lidos manifestos e poemas, expõem-se quadros e
esculturas, e músicas são executadas, tudo diante de um público que reagiu com
vaias e apupos. Estava “oficialmente” inaugurado o período de destruição e
combate dos primeiros modernistas, que investiam, sobretudo, contra os sólidos
valores parnasianos. Manuel Bandeira, que não havia
comparecido, teve o seu poema “Os sapos” lido por Ronald de Carvalho, o que
exemplifica a intenção dos modernistas em ridicularizar o conservadorismo
parnasiano.
2.2.4 - As correntes
modernistas
Depois da união inicial em
torno da Semana, os modernistas
dividiram-se em grupos e movimentos que refletiam orientações estéticas e
ideológicas diversas:
1. Movimento Pau-brasil:
Lançado em 1924, com a
publicação do Manifesto da Poesia
Pau-brasil, faziam parte do movimento Oswald de Andrade,
Mário de Andrade, Raul Bopp, Alcântara Machado e
Tarsila do Amaral. Tinha como objetivo a revalorização dos elementos
primitivos da nossa cultura, através da crítica ao falso nacionalismo e da
valorização de obras que redescobrissem o Brasil, seus costumes, seus
habitantes e suas paisagens.
2. Movimento Verde-amarelo:
Liderado por Plínio
Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, e tendo uma
postura nacionalista, repudiava tudo que fosse importado e tentava mostrar um
Brasil grandioso. Entretanto, por revelar uma visão reacionária, sobretudo
através de Plínio Salgado, que viria a ser um dos principais líderes do Integralismo, movimento político
brasileiro de extrema-direita baseado nos moldes fascistas.
3. Movimento Antropofágico:
Radicalização das idéias do
Pau-brasil, foi lançado em 1928, com a publicação do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade. Participaram do
movimento, além de Oswald, Tarsila do Amaral, Raul
Bopp, Alcântara Machado e outros. Esse movimento opunha-se ao
conservadorismo do Movimento Verde-amarelo (ou escola da Anta).
Várias foram as revistas de
divulgação das idéias desses movimentos:
Revista Klaxon (nome dado à buzina externa dos carros): publicada em 1922, teve nove
números, sendo a primeira revista de divulgação de trabalhos e idéias dos
modernistas.
Revista Terra Roxa e Outras terras: publicada em 1926, com a participação de Mário
de Andrade e Oswald de Andrade.
Revista de Antropofagia: publicada em 1928, foi o órgão de divulgação do
Movimento Antropofágico.
Além dessas, surge em 1925,
em Belo Horizonte, A Revista, com
editorial redigido por Carlos Drummond de Andrade. No Rio
de Janeiro, não ocorreram na época rupturas acentuadas, e a revista Festa, publicada em 1927, antes de
refletir uma visão modernista, expressava a sobrevivência do espiritualismo
simbolista. Dela participaram, entre outros, Tasso da Silveira,
Cecília Meireles e Jackson Figueiredo, este último
chefe da censura do governo de Artur Bernardes, que governou o país
sob estado de sítio.
No período compreendido
entre 1930 e 1945, as obras dos poetas da primeira fase atingem a sua
maturidade. Nessa fase também se consolida a corrente regionalista da
literatura brasileira.
Ao contrário do Modernismo
paulista, voltado para o futuro e aberto a toda forma de renovação, o
regionalismo de 30 mostrou-se conservador, voltado para as tradições
nordestinas, seus valores culturais e morais. Mais preocupado com uma razão
sociológica da realidade do que com a renovação da linguagem narrativa, o
regionalismo de 30 foi um veículo de denúncia dos problemas sociais do
Nordeste.
2.2.4.1 - POESIA
Os poetas que aparecem no
início da década de 30 já semeavam num campo preparado pela geração de 22. Esta
rompera com o academicismo e renovara a linguagem e o estilo, incorporara o
verso livre, o prosaico e o cotidiano. A geração de 30, despreocupada com as
questões imediatas de 22 (o nacionalismo, o folclore, a destruição dos esquemas
do passado etc.), voltava-se para as questões sociais do homem, o “desconcerto
do mundo” e os problemas da sociedade capitalista. É o que se dá, por exemplo,
na poesia de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Jorge
de Lima. Em Vinícius de Morais e Cecília Meireles, a temática
universalizante também estará presente, embora suplantada por uma poesia
personalista. Por outro lado, alguns dos mais importantes poetas de 30, entre
eles Murilo
Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles,
incorporariam a religiosidade e o misticismo em seus poemas.
Finalmente, é preciso
observar que a geração de 30 não processou uma mudança repentina e tampouco
limita-se àquele período. Os poetas de 22, aos de 30, e alguns desses também
continuariam produzindo e se renovando até os nossos dias.
2.2.4.2 - PROSA
Nos anos 30, a ficção dá
novo salto qualitativo com o aparecimento de escritores de grande importância,
que se distribuem basicamente em três lados: a prosa regionalista, a prosa
regionalista, a prosa urbana e a prosa intimista.
a) Prosa regionalista:
As raízes do regionalismo se
encontram no século anterior, com O sertanejo, de José de Alencar, e O
cabeleira, de Franklin Távora.
Na década de 20,
desenvolve-se no Brasil uma revalorização das tradições regionais , sobretudo
através de Gilberto Freyre, sociólogo então recém chegado dos Estados
Unidos, onde estivera a estudos. Em 1926 cria-se o Centro Regionalista e
realiza-se o Primeiro Congresso
Brasileiro de Regionalismo. Gilberto Freyre afastara-se, de
certa forma, dos modernistas de São Paulo, influenciados por idéias importadas
da França, pois sua formação sofrera influências anglo-americanas.
A preocupação com a
revalorização do Nordeste deve-se em parte ao deslocamento do eixo econômico e
cultural para o Sul, quando a indústria açucareira começa a decair. Por outro
lado, o capitalismo impessoal de empresários sem vínculos com a região
contribuía para a descaracterização cultural do Nordeste, cuja economia tinha
bases patriarcais e paternalistas.
Ainda que os regionalistas
tenham assimilado as conquistas modernistas, como a aproximação da linguagem
literária à linguagem falada e o uso de neologismos, por exemplo, o movimento
regionalista de 30 mostrou-se conservador, voltado, por assim dizer, , para o
passado. Mas o regionalismo de 30 soube revelar os problemas sociais do
Nordeste: o drama das secas e das retiradas, a submissão do homem ao
latifundiário, a ignorância e as mazelas políticas da região.
A bagaceira, de José Américo de Almeida,
é a obra inaugural e seu prefácio, intitulado “antes que me falem”, constitui
um intenso manifesto do regionalismo, de então. A seguir, publicam-se, entre
outros, O quinze(1930), de Raquel de Queirós, O
país
do carnaval(1931), de Jorge Amado e Menino de engenho(1932),
de José
Lins do Rego. Em 1938, Graciliano Ramos publica Vidas
Secas, a obra máxima do romance nordestino.
b) Prosa urbana:
José Geraldo Vieira, Érico Veríssimo e Marques
Rebelo são os que mais se destacaram ao retratar o ambiente e as
personagens das grandes cidades de então.
c) Prosa intimista:
Os conflitos humanos e as
questões psicológicas aparecem nas obras de Lúcio Cardoso, Dionélio
Machado e Otávio de Faria. No final do período, surge um dos maiores
nomes da literatura brasileira, Clarice Lispector, que merece
considerações à parte.
Entre os autores que, na
década de 30, buscaram no Nordeste o material para a temática de seus romances,
destacam-se Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
Ambos procuraram denunciar a
degradação humana decorrente de condições sociais e ecológicas adversas. José
Lins do Rego, conforme as palavras de Aderaldo Castello, “fixaria o esplendor e decadência do
engenho-de-açucar, logo substituído pela usina, num processo de revolução da
estrutura social e econômica na paisagem açucareira o Nordeste, latifundiária e
patriarcalista”. Graciliano Ramos ora descreve a realidade a partir da visão do
sertanejo, como em Vidas secas, ora
questiona o latifúndio e as relações humanas, como em São Bernardo, sempre associando, admiravelmente, a psicologia das
personagens com as condições naturais e sociais em que estão inseridas.
A partir de 1945, ocorre uma
ruptura dos esquemas narrativos dos anos 30. O romance, que, com poucas
exceções, procurava ser uma representação realista da realidade, questiona a
sua própria linguagem e subverte os esquemas tradicionais. Essa subversão,
contudo, não se dá como a poesia da chamada “geração de 45”, preocupada com o
artesanato poético.
Alguns críticos preferem
chamar a literatura pós-45 de literatura atual, dada a complexidade de nossa
produção literária e o fato de muitos autores estarem produzindo. Outros já
estabelecem novos limites. Para estes, se o motor de explosão detonou a
revolução moderna, o chip, com o qual o homem ingressa, a partir dos anos 50,
na era da Informática, lança-nos num contexto pós-moderno.
Entre os primeiros
escritores da terceira fase destacam-se Clarice Lispector e Guimarães
Rosa, na prosa e João Cabral de Melo Neto, na poesia.
2.2.5 – Divisão
Das Fases
2.2.5.1 - Primeira
fase
1 - Mário de Andrade
Mário Raul Morais Andrade, nasceu em São Paulo em
1843 e faleceu também na cidade de origem, em 1945. Além de poeta, romancista e
excelente contista, foi crítico literário, professor de piano e de história da
música e um estudioso apaixonado pelo folclore brasileiro. Fundou o
Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo e o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, tendo sido ainda professor da Universidade do
Distrito Federal ( hoje UFRG), onde regeu a caldeira de Filosofia e História da
Arte. Participante ativo do movimento modernista brasileiro, e a mais
importante figura da geração de 22, deixou-nos uma obra vasta e importante.
OBRAS
Poesia: Há uma gota de sangue em
cada poema(1917);
Paulicéia
desvairada(1922); Losango cáqui(1926); Clã
do Jabuti(1927); Remate de males(1930); Lira
paulistana(1946); - publicação póstuma.
Ficção: Amar, verbo intransitivo(1927); Macunaíma(1928); Os
contos de Belazarte(1934); Contos novos(1946); - publicação
póstuma.
Ensaio: A escrava que não é
Isaura(1925);
Aspectos
da literatura brasileira(1943); O empalhador de passarinhos(1944).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
POESIA
O livro de estréia de Mário
de Andrade, Há uma gota de sangue em cada poema (1917), apesar de revelar
um poeta sensível, motivado pela Primeira Guerra Mundial, é um livro
adolescente, de pouco valor estético, apresentando um artista ainda sob
influência parnasiano-simbolista.
Em Paulicéia desvairada
(1922), vamos encontrar o poeta adulto e renovador, no livro que viria a ser,
cronológicamente, o primeiro do Modernismo brasileiro. Nele, o poeta focaliza
aspectos humanos, sociais e políticos de São Paulo, em versos livres, de
métrica informal, subvertendo os valores estéticos até então vigentes.
Palavras, sintagmas, flashes e fragmentos articulam-se
numa tentativa de aprender a alma urbana de São Paulo, ora celebrando-lhe a
paisagem, ora criticando a burguesia paulistana, ora tentando expressar uma
visão totalizante da cidade.
FICÇÃO
A obra ficcionista de Mário
de Andrade pode ser dividida em duas vertentes: a primeira trata do
universo familiar da burguesia paulista e da gente do povo - é o caso do
romance Amar, verbo intransitivo (1927) e da série de contos enfeixados
em dois livros: Os Contos de Belazarte (1934) e Contos novos (1946) -; a
segunda origina-se do aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas
populares e elementos do folclore nacional, com os quais compôs sua obra-prima,
Macunaíma,
livro a que chamou de rapsódia, considerando o fato de ter
feito uma composição com fragmentos de assuntos variados e heterogêneos.
2 - Oswald de Andrade
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo, em
1890 e faleceu também na cidade de origem, em 1954. De família tradicional e
abastada, Oswald de Andrade pôde, ainda jovem, em 1912, ir à Europa, onde
tomou conhecimento dos manifestos futuristas de Marinetti. Em 1917
conhece Mário de Andrade e Di Cavalcanti, com os quais articula
o movimento artístico e literário deflagrado oficialmente na Semana de Arte Moderna.
Formado em Direito, seus primeiros trabalhos foram publicados no seminário O
pirralho (crítica e humor), fundado por ele em 1911. Esquerdista
militante, aderiu ao Partido Comunista em 1931, afastando-se da política em
1945, ano em que obtém o título de Livre-docente em Literatura brasileira na
Universidade de São Paulo.
OBRAS
Poesia: Pau-brasil (1925); Primeiro caderno do aluno de
poesia Oswald de Andrade (1927).
Romance: Trilogia do exílio:
I. Os condenados (1922), II. A estrela do absinto
(1927), III. A escada vermelha (1934);
Memórias
sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1933);
Marco
zero I: A revolução melancólica (1943); Marco zero II: Chão (1946).
Teatro: O homem e o cavalo (1943); O rei
da vela (1937); A morta (1937); O rei floquinhos (infantil) (1953).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
POESIA
Oswald de Andrade buscou uma poesia que
expressasse o genuinamente brasileiro e percorresse, desde os tempos coloniais,
a vida rural e urbana do país, que procurou ver com olhar ingênuo da criança e
o da pureza primitiva do índio. Reaproveitando textos dos primeiros viajantes (Caminha,
Gândavo
e outros), escreveu poemas breves, em versos livres e brancos, com linguagem
coloquial, humor e paródia, recusando a estrutura discursiva do verso tradicional.
PROSA
Os romances que compõem a Trilogia
do exílio e Marco zero não têm merecido observações muito favoráveis da
crítica. O não se pode dizer de “Memórias sentimentais de João Miramar e
Serafim Ponte Grande.
Memórias sentimentais de João Miramar é
considerado a primeira grande realização da prosa modernista. Rompendo com
esquemas tradicionais da narrativa, a obra é construída a partir de fragmentos
justapostos, de blocos que rompem com a seqüência discursiva e de
capítulos-relâmpagos, assemelhando-se à justaposição das imagens
cinematográficas, o que impossibilita uma leitura linear da história e deixa a
cargo do leitor a recomposição da narrativa. A paródia, técnica cubista
(aproximação de elementos distanciados, como a pintura de um olho sobre uma
perna, por exemplo), a frase sincopada, as elipses que devem ser preenchidas
pelo leitor, a linguagem infantil é poética, e outras inovações fazem das Memórias
uma obra revolucionária para sua época. O recurso metonímico, dentro da técnica
cubista, é levado ao extremo, como nesta passagem em que empresta a uma porta
as mangas de camisa e as barbas de que foi abri-la:
Um cão ladrou à porta
barbuda em mangas de camisa e uma lanterna bicor mostrou os iluminados na
entrada da parede.
Ainda que, por razões
didáticas, estejam incluídos na primeira fase do Modernismo brasileiro, Manoel
Bandeira e Cassiano Ricardo chegaram as experiências poéticas mais
recentes, como o Concretismo, por
exemplo.
Ambos estrearam sob
influências parnasiano-simbolistas, mas logo aderiram definitivamente ao
Modernismo, criando uma obra original que lhes deu o destaque merecido entre os poetas mais
importantes da nossa literatura.
3 - Manoel Bandeira
Manoel Carneiro de Souza Bandeira Filho, nasceu em Recife (Pe), em
1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1968. Estudou no colégio Pedro II, no Rio
de Janeiro e iniciou o curso de engenharia, em São Paulo, abandonando-o por
motivo de saúde. Em busca da cura para a tuberculose, viajou para a Suíça, onde
aproximou-se de poetas pró-simbolistas, entre eles Paul Éluard. Em 1917,
retornou ao Brasil. Foi professor de literatura no colégio Pedro II e da
faculdade Nacional de Filosofia (hoje, UFRJ cinquentanos). Em 1940, foi eleito
membro da Academia Brasileira de Letras.
OBRAS
Poesia: A cinza das horas(1917); Carnaval(1919); Ritmo
dissoluto(1924); Libertinagem(1930);
Estrela
da manhã(1936); Lira dos cinquent’anos(1940); Belo
belo(1948); Estrela da vida inteira (1966).
Prosa: Crônicas da província do
Brasil(1937);
Guia
de Ouro Preto(1938); Itinerário de Pasárgada (1954); Andorinha,
andorinha(1966).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Manoel Bandeira estreou
em 1917, com A cinza das horas, publicando a seguir Carnaval(1919), ambos ainda com resíduos parnasianos e
simbolistas, mas já revelando um poeta de espírito renovador.
Com Ritmo dissoluto(1924),
aproxima-se mais da estética modernista, graças ao predomínio do verso livre e
à procura da “dissolução” da cadência rítmica tradicional, além da incorporação
do corriqueiro e cotidiano.
O livro Libertinagem(1930) é
definitivamente modernista, caracterizam-no a renovação da linguagem, a fuga do
“belo” tradicional em poesia, a incorporação da linguagem coloquial e popular e
a temática do dia-a-dia, com poemas tirados de notícias de jornal, de frases
corriqueiras, orientados como os demais, por um tom irônico e, ás vezes,
trágico. Esses elementos prosseguirão em Estrela da manhã(1936) e estarão
presentes nas obras seguintes.
O caráter geral de sua
poesia é marcado ainda pelo tom confidencial, pelo desejo insatisfeito, pela
amargura e por referências autobiográficas relacionadas com a sua doença, com
os lugares onde morou (sobretudo no bairro da Lapa no Rio de Janeiro) e com a
família. Profundo conhecedor da técnica de composição poética por vezes
aproveita-se das formas clássicas ou faz
incursões às formas mais radicais das vanguardas, sem contudo perder a marca de
absoluta simplicidade, predominante em sua obra.
Ainda que se note em várias
passagens de sua obra a herança do Romantismo, Bandeira soube evitar o
sentimentalismo piegas, edificando uma obra depurada e de grande valor
estético.
4 - Cassiano Ricardo
Cassiano Ricardo Leite, nasceu em São João dos
Campos (SP), em 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1974. Estudou Direito em
São Paulo e no Rio de Janeiro, onde diplomou-se em 1917. Retorna a São Paulo,
dedicando-sse ao jornalismo, à administração pública e à política. Com Menotti
del Picchia e Plínio Salgado, funda o Movimento Verde-amarelo, participando da
corrente nacionalista do Modernismo brasileiro. Em 1937, foi eleito membro da
Academia Brasileira de Letras.
OBRAS
Poesia:
Dentro
da noite (1915); A Frauta de Pã (1917); Vamos
caçar papagaios (1926); Martim-Cererê ou O
Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis (1928); O
sangue das horas (1943); Um dia depois do outro (1947); Jeremias
sem-chorar (1963); Os sobreviventes (1971).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Como outros
modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob
influências parnasiano-simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro
da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua
inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas
poéticas mais recentes.
Com Vamos caçar papagaios
(1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista
“verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas. Martim-Cererê,
o livro mais importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e
colonização do Brasil. Nele, o poeta incorpora ao seu canto a fauna e a flora
brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática penetração
territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São
Paulo.
Em O sangue das horas (1943)
e
Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a
reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia,
frustração, angústia e perplexidade diante da vida.
5 - Alcântara Machado
Antônio Castilho de
Alcântara Machado nasceu em São Paulo no ano de 1901 e faleceu no Rio de Janeiro em
1935. Formou-se em Direito, em São Paulo. Ainda estudante, inicia-se no
jornalismo. Terra roxa e Outras Terras e, com Oswald de Andrade, fundou
a Revista
de Antropofagia. Político militante, foi eleito, em 1935, deputado
federal por São Paulo, mas não chegou a ser empossado.
Importante contista da
primeira fase do Modernismo, Alcântara Machado retratou a vida e
as gentes de São Paulo, deixando-nos numa galeria de tipos singulares. O
comerciante, o barbeiro, o torcedor de futebol, a criança levada, são algumas
das personagens que compõem essa galeria, em que predomina a figura do
imigrante italiano. Nos bairros populares da antiga São Paulo, suas personagens
vivem as cenas do cotidiano, a partida de futebol, as brigas de rua, as festas
etc. Diminuindo a distância entre a língua falada e a escrita, incorporou a
linguagem popular, os italianismos e a sintaxe sem artificialismos, o que
resultou numa prova leve e num estilo moderno, por vezes elíptico e
telegráfico, feito de orações assindéticas e frases curtas.
OBRAS: Pathé Baby (1926); Brás,
Bexiga e Barra Funda (1927); Laranja da China (1928); Mana
Maria (1936); Novelas paulistanas (1961) - reunião
das três obras anteriores.
6 -
Raul Bopp
Raul Bopp, nasceu em Tupanciretã (RS), em 1898. Formado em direito, ingressou na diplomacia, depois da revolução de 30.
Participou do movimento Verde-amarelo, aderindo depois ao movimento
Antropofágico, cujas idéias estão presentes em Cobra Norato, de 1931.
Escrito em linguagem
popular, Cobra Norato descreve a natureza amazônica, sua gente, seus
costumes e lendas, seus animais e fenômenos naturais. O poeta, valendo-se de um
recurso mágico (enfia-se na pele de Cobra Norato), sai pelo mundo em busca da
filha da rainha Luzia.
OBRA PRINCIPAL: Cobra Norato(1931).
7 - Menotti Del Picchia
Paulo Menotti Del Picchia nasceu em São Paulo, em
1892 e faleceu também , em sua cidade de origem, em 1988. Bacharel em direito,
exerceu inúmeras atividades: foi agricultor, advogado, jornalista, editor,
industrial, banqueiro e deputado federal e estadual. Um dos líderes da Semana
de Arte Moderna, participou com Plínio Salgado e Cassiano
Ricardo do movimento nacionalista. Foi membro da Academia de Letras.
Menotti Del Picchia antecipou-se a corrente
nacionalista de 22, ao publicar Juca Mulato, romance que canta a
terra e o homem brasileiro. Em oposição ao Jeca Tatu, de Monteiro
Lobato, Juca Mulato, camponês simples e humilde, cujo o universo
restringe-se a sua fazenda, torna-se o herói de um drama universal, o do amor
que arrebata o indivíduo, enfraquecendo-lhe o raciocínio e exasperando-o a
força do sofrimento. O amor, tornado em antagonista, leva Juca Mulato a travar
uma luta consigo mesmo, da qual sai vencedor, graças a perfeita harmonia com os
elementos do seu cotidiano: as plantas, os bichos, enfim o cenário em que vive.
OBRA PRINCIPAL: Juca Mulato(1917).
2.2.5.2 – Segunda fase
PROSA
1 - Graciliano Ramos
Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo (AL),
em 1892 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1953. Fez os primeiros estudos no
interior de Alagoas e tentou o jornalismo no Rio de Janeiro. Regressou a
Palmeira dos Índios (AL), cidade da qual foi prefeito, em 1928, renunciando ao
cargo dois anos depois e passando a dirigir a Imprensa Oficial do Estado. Em
1933, foi nomeado Diretor da Instrução Pública. Por suspeita de ligação com o
consumismo, foi demitido e preso em 1936. Remetido ao Rio de Janeiro,
permaneceu encarcerado na Ilha Grande, onde escreveu Memórias do cárcere.
Em 1945, aderiu ao Partido Comunista Brasileiro.
OBRAS
Romance: Caetés(1933); São Bernardo(1936); Vidas
secas(1938).
Conto: Insônia(1947).
Memórias: Infância(1945); Memórias do cárcere(1953);
Linhas
tortas(1962); Viventes das lagoas(1962). As duas
últimas obras foram publicadas postumamente.
Literatura infantil: Histórias de
Alexandre(1944);
Histórias
incompletas(1946).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
De maneira geral, sus
romances caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e
a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa , “enxuta” e
despojada, de períodos curtos mas de grande força expressiva.
Seu romance de estréia, Caetés(1933),
gira em torno de um caso de adultério ocorrido numa pequena cidade do interior
nordestino e não está à altura das obras subseqüentes.
São Bernardo(1934), uma de suas
obras-primas, narra a ascensão de Paulo Honório, rico proprietário da fazenda
São Bernardo. Com o objetivo de ter um herdeiro Paulo Honório casa-se com
Madalena, uma professora de idéias progressistas. O ciúme e a incompreensão de
Paulo Honório levam-na ao suicídio. Trata-se de um romance admirável, não só
pela caracterização da personagem, mas também pelo tratamento dado à
problemática da coisificação dos indivíduos.
Angústia, é a história de uma só
personagem, que vive a remoer a sua angústia por ter cometido um crime
passional.
Entre suas obras
auto-biográficas, destaca-se Memórias do cárcere(1953),
depoimento sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do
ditador Getúlio Vargas.
2 - José Lins do Rego
José Lins do Rego Cavalcanti nasceu em Pilar (PB), 1901
e faleceu no Rio de Janeiro em 1957. De família ligada à produção açucareira,
criou-se no engenho do avô, fato que iria influenciar a sua obra. Formou-se em
Direito, no Recife, e foi promotor em Minas Gerais. Exerceu como funcionário do
Ministério da Fazenda, o cargo fiscal de bancos, em Maceió, onde conviveu com Graciliano
Ramos, Raquel de Queiróz e Jorge Lima. Em 1935, fixou
residência no Rio de Janeiro e, em 1953, foi eleito membro da Academia
Brasileira de Letras.
OBRAS:
Menino
de Engenho (1932); Doidinho (1933); Bangüê
(1934); O moleque Ricardo (1935); Usina (1936); Pureza (1937); Pedra
Bonita (1938); Riacho Doce (1939); Água-mãe
(1941); Fogo morto (1943); Eurídice (1947); Cangaceiros
(1953).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Segundo o próprio autor, sua
obra de ficção pode ser dividida em:
a) Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho, Doidinho,
Bangüê,
Usina
e Fogo morto;
b) Ciclo do cangaço: do misticismo e da seca: Pedra Bonita e Cangaceiros;
c) Obras independentes: O moleque Ricardo, Pureza
e Riacho
Doce (que de algum modo associam-se aos ciclos anteriores).
As obras do chamado “ciclo
da cana-de açúcar” são as mais importantes, destacando-se em Fogo
Morto. Nelas, o autor procura retratar o início da decadência dos
senhores de engenho, o advento da usina-de-açúcar, com seus métodos modernos de
produção, e a formação de uma nova estrutura econômica e social na região
açucareira do Nordeste.
As características marcantes
desse ciclo são: o memorialismo, a visão de mundo sob a ótica do senhor de
engenho, a linguagem espontânea e certa consciência crítica em relação à
miséria e ao subdesenvolvimento do Nordeste.
Érico Veríssimo, com a maioria da suas
obras ambientadas no Rio Grande do Sul, deixou-nos romances urbanos, que
registram a vida da pequena burguesia porto-alegrense, romances políticos, que
denunciam os males do autoritarismo, e a monumental trilogia histórica O tempo
e o vento.
Jorge Amado fala-nos da Bahia, sua
gente, seu folclore, sua vida boêmia, seu sincretismo religioso, num universo
exótico em que comparecem burgueses e personagens das classes populares.
Ambos são romancistas mais
lidos e mais populares da literatura brasileira.
3 - Érico Veríssimo
Érico Lopes Veríssimo nasceu em Cruz Alta, em
1905 e faleceu em Porto Alegre, em 1975. Concluiu o 1º grau (antigo ginásio) em
Porto Alegre. De volta a sua cidade natal, empregou-se no comércio, foi
bancário e sócio de uma farmácia. Em 1930, transferiu-se para Porto Alegre,
onde, depois de trabalhar algum tempo como desenhista e de publicar alguns
contos na imprensa local, empregou-se na Editora Globo como secretário do
Departamento Editorial. Viajou duas vezes aos Estados Unidos, onde ministrou
cursos de literatura brasileira.
OBRAS
Romance: Clarissa(1933); Caminhos cruzados(1935); Música
ao longe(1935); Um lugar ao sol(1936); Olhai
os lírios do campo(1938); Saga(1940); O resto é silêncio(1942); O tempo e o vento: I - O
continente(1948), II - O retrato(1951), III - O
arquipélago(1961); O senhor embaixador(1965); O
prisioneiro(1967); Incidente em Antares(1971).
Conto e novela: Fantoches(1932); Noite(1942).
Memórias: Solo de clarineta I(1973); Solo de clarineta II(1975).
Publicou ainda várias obras
de ficção didática e literatura infantil, além de narrativas de viagens.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Costuma-se dividir a obra de
Érico
Veríssimo em três grupos:
1) Romance urbano: Clarissa, Caminhos cruzados, Um
lugar ao sol, Olhai os lírios do campo, Saga e
o
Resto é silêncio. As obras desta fase registram a vida da pequena
burguesia porto-alegrense, com uma visão otimista, às vezes lírica, às vezes
crítica, e com uma linguagem tradicional, sem maiores inovações estilísticas.
Desta fase destaca-se Caminhos
cruzados, considerado um marco na evolução do romance brasileiro. Nele,
Érico
Veríssimo usa a técnica do contraponto, desenvolvida por Aldous
Huxley (de quem fora tradutor) e que consiste mesclar pontos de vista
diferentes (do escritor e das personagens) com a representação fragmentária das
situações vividas pelas personagens, sem que haja no texto um centro
catalisador.
2) Romance histórico: O tempo e o
vento.
A trilogia de Érico Veríssimo procura abranger duzentos anos da história do
Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945. O primeiro volume (O continente), narra a
conquista de São Pedro pelos primeiros colonos e é considerado o ponto mais
alto de sua obra.
3) Romance político: O senhor
embaixador,
O
prisioneiro e Incidente em Antares. Escrito durante
o período da ditadura militar, iniciada em 1964, denunciam os males do
autoritarismo e as violações dos direitos humanos. Desta série destaca-se
Incidente em Antares.
4 - Jorge Amado
Jorge Amado de Faria, nasceu em Ferradas (hoje Itabunas (BA)), em 1912.
Fez os primeiros estudos em Ilhéus e Salvador, concluindo-os no Rio de Janeiro,
onde se formou em direito. Militante de esquerda , exilou-se várias vezes,
fugindo de perseguições políticas. Em 1945, é eleito deputado, em São Paulo,
pelo Partido Comunista, perdendo o mandato quando o partido é posto na
ilegalidade. Obteve o Prêmio Stalin de Literatura e a Legião de Honra da
França. É membro da Academia Brasileira
de Letras desde 1959. Suas obras alcançam mais de trezentas edições em línguas
estrangeiras, com milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.
OBRAS
Romance: O país do carnaval(1931); Cacau(1933); Suor(1934); Jubiabá(1935);
Mar
Morto(1936); Capitães da areia(1937); Terras
do sem-fim(1942); São Jorge dos Ilhéus(1944); Seara
vermelha(1946); Os subterrâneos da liberdade(1952);
Gabriela,
cravo e canela(1958); Dona flor e seus dois maridos(1967);
Tenda
dos milagres(1970); Teresa Batista cansada de guerra(1973);
Tieta
do agreste(1977); Farda, fardão e camisola de dormir(1979).
Novela: Os velhos marinheiros(1961); Os pastores da noite(1964).
Biografia: ABC de Castro Alves(1941); Vida de Luís Carlos Prestes, o cavaleiro da
esperança(1945).
Teatro:
O
amor de Castro Alves, reeditado como O amor do soldado(1947).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Costuma-se dividir a obra de
Jorge
Amado em duas fases. A primeira iniciada com o romance O
país do carnaval(1931), caracteriza-se pelo forte conteúdo político e
pela denúncia das injustiças sociais, o que muitas vezes dá um caráter
panfletário e tendencioso às obras aí incluídas. O esquematismo psicológico das
obras dessa primeira fase leva a uma divisão do mundo em heróis (marginais,
vagabundos, operários, prostitutas, meninos abandonados, marinheiros etc.) e
vilões (a burguesia urbana e os proprietários rurais).
Terras do sem-fim(1942) é uma exceção entre
os romances da primeira fase, constituindo uma das obras-primas do autor.
A segunda fase, inicia-se
com a publicação de Gabriela, cravo e canela(1958). Fugindo o panfletarismo e ao
esquematismo psicológico, Jorge Amado constrói seus romances
com elementos folclóricos e populares: os costumes afro-brasileiros, a comida
típica, o candomblé, os terreiros, a capoeira etc. O mundo dos marginalizados
torna-se então um mundo feliz, pois seus heróis levam uma vida sem
preconceitos, sem regras severas de conduta social, o que lhes permite um
elevado grau de liberdade existencial.
A partir de então, como se
houvesse descoberto uma fórmula, Jorge Amado insiste nos mesmos
esquemas, repetindo com pequenas variações, a mesma “receita”.
5 - Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG), 1902
e faleceu no Rio de Janeiro em 1987. Realizou os primeiros estudos em Itabira,
Belo Horizonte e Nova Friburgo, formando-se em farmácia, em 1925. Sem interesse
pela profissão de farmacêutico, lecionou Geografia e português, dedicando-se
também ao jornalismo, atividade que encerrou em 1985. Em 1928, ingressou no
funcionarismo público, tendo exercido, entre outros cargos, a chefia de
gabinete do ministro da Educação Gustavo Capanema. Apesar de inúmeros convites,
nunca se candidatou a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Morreu no Rio
de Janeiro, Onde residia desde 1933.
OBRAS:
Poesia: Alguma poesia (19300; Brejo
das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); Poesias
(1942); A rosa do povo (1945); Viola de bolso (1952); Fazendeiro
do ar e poesia até agora (1953); Viola de bolso novamente encordoada (1955);
Poemas
(1959); A vida passada a limpo (1959); Lição de coisas (1962); Versiprosa
(1967); Boitempo (1968); Menino antigo (1973); As
impurezas do branco (1973); Discurso de primavera e algumas sombras
(1978); A paixão medida (1980); Corpo (1984).
Prosa:
Confissões
de Minas (1944); Contos de aprendiz (1951); Passeios
na ilha (1952); Fala, amendoeira (1957); A
bolsa e a vida (1962); Cadeira de balanço (1966); Caminhos
de João Brandão (1970); O poder ultrajovem (1972); De
notícias & não-notícias faz-se a crônica (1974); 70
historinhas (1978); Boca de luar (1984).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Drummond é sem dúvida, o maior poeta
brasileiro contemporâneo. Sua estréia deu-se em 1930, com Alguma poesia. De maneira
geral, os poemas desse livro procuram retratar a vida à sua volta. O poeta,
livre de preconceitos literários anteriores, procura “trabalhar a realidade com
as mãos puras”; fala-nos de cenas do cotidiano, de paisagens, de lembranças,
fotografando a realidade, retratando a “vida besta”.
Por outro lado, o poeta
manifesta o seu pessimismo e a sua personalidade reservada, tímida,
desconfiada, de um poeta que nasceu “para ser um gauche na vida”; outras vezes,
deixa transparecer uma fina ironia e humor, utilizando-se também do
poema-piada, herança dos modernistas da primeira fase.
Em Brejo das almas (1934), o
poeta evolui, abandonando o descritivismo, e acentua o humor de seus versos. Drummond
interioriza-se, manifestando um sentimento de decepção e amargura, de falta de
sentimento da existência ou de solução para o destino. Além disso, acentua a
temática amorosa, num lirismo contido por vezes irônico.
POESIA
Murilo Mendes e Jorge de Lima foram
amigos inseparáveis. Juntos publicaram o livro Tempo e eternidade, com
poemas de inspiração católica, através dos quais procuravam “restaurar a poesia em Cristo”. Como Jorge
de Lima ficasse mais perto do tempo, enquanto Murilo Mendes
preocupava-se mais com a eternidade, Wagner Dutra, um amigo comum, ao
vê-lo chegar, costumava dizer: “Lá vem
Tempo e Eternidade!”
A obra de ambos, porém, não
se restringiu apenas à temática de conteúdo cristão. Murilo Mendes deixou-nos
uma grande variedade de poemas que demonstram sua preocupação constante com
evolução das formas de expressão, chegando às experiências renovadoras mais
atuais. Jorge de Lima legou-nos o poema épico-lírico Invenção
de Orfel, síntese grandiosa da sua trajetória poética e que o coloca
também entre os maiores poetas de nossa literatura.
6 - Murilo Mendes
Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz de Fora
(MG), 1901 a faleceu em Lisboa no ano de 1975. Fez os primeiros estudos em sua
cidade natal, mudando-se para o Rio de Janeiro em 1920. Lecionou, desde 1957,
estudos brasileiros em Roma. Em 1972, recebeu o Prêmio internacional de Poesia
Etna-Taormina.
Obras:
Poemas
(1930); História do Brasil (1932); Tempo e eternidade (1935) - em
colaboração com Jorge de Lima; A poesia em pânico (1938); O
visionário (1941); As metamorfoses (1944); Mundo
enigma (1945); Poesia liberdade (1947); Contemplação
de Ouro Preto (1954); Poesias (1959);
Siciliana
(1959); Tempo espanhol (1959); Poliedro (1962); Convergência
(1970).
Prosa:
Na
idade do serrote (1968); Transistor (1980) - antologia.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Partindo das primeiras
experiências modernistas, Murilo Mendes, sempre preocupado em
renovar permanentemente a sua expressão poética, chegou em seus últimos
trabalhos a uma total liberdade de criação e experimentação.
Seu livro de estréia, Poemas
(1930), contém uma crítica irônica à sociedade técnica e mecanizada. Nele,
encontramos a figura da mulher simbolizando a “seiva da vida”. Essa visão
crítica será retomada em O
visionário (publicado em 1941, mas com poemas escritos entre 1930 e
1933), no qual se acentua a tentativa de expressão surrealista, já manifestada
no primeiro livro, exprimindo um sentimento de angústia diante de um modo
absurdo e conturbado.
História do Brasil (1932) contém poemas
satíricos que criticam fatos e personagens de nossa história, com um humor bem
ao gosto da literatura da primeira fase modernista.
Com Tempo e eternidade (1935), escrito em
colaboração com Jorge de Lima, inicia-se uma vertente significativa da poesia
de Murilo
Mendes: a religiosidade. Para José Guilherme Merquior, trata-se de
“uma religiosidade verticalmente empenhada na crítica da desumanização da vida
no mundo contemporâneo”, crítica que também está presente no livro A
poesia em pânico (1938).
7 - Jorge Lima
Jorge Matheos de Lima nasceu em União (AL), 1895
e faleceu no Rio de Janeiro em 1953. Formado em Medicina, foi deputado estadual
em Alagoas e professor universitário. Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro,
onde foi presidente da Câmara de Vereadores do antigo Distrito Federal.
OBRAS:
Poesia: XIV alexandrinos (1914); O
mundo do menino impossível (1925); Poemas (1927); Novos poemas (1929); Poemas
escolhidos (1932); Tempo e eternidade (1935) - em
colaboração com Murilo Mendes; Quatro poemas negros (1937); A
túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Livro
de sonetos (1949); Anunciação e encontro de Mira-celi
(1950); Invenção de Orfel (1952).
Romance: O anjo (1934); Calunga
(1935).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Em estudo recente, Gilberto
Mendonça Teles divide a obra de Jorge de Lima em três fases:
a) Fase de formação
Abrange o início de sua
atividade poética até 1932. Dessa fase são os livros: XIV alexandrinos (1914), Poemas (1927), Novos poemas (1929), Poemas
escolhidos (1932) e Poemas negros, que, embora publicado
em 1947, tem marcas estilísticas da primeira fase.
Num primeiro momento dessa
fase, o poeta, ainda sob influência parnasiana, privilegia o soneto e esmera-se
num vocabulário bem ao gosto parnasiano.
A partir de Poemas
(1927), Jorge de Lima adere ao Modernismo, com textos marcados por
cenas da infância, pelo sentimento nacionalista, por referências ao Nordeste e
pela forte influência de elementos do folclore negro.
b) Fase de Transformação
Pertencem a essa fase os
livros: Tempo e eternidade (1935), A túnica inconsútil (1938), Associação
e encontro de Mira-Celi (1943) e Livro
de sonetos (1949). Nessa fase, o poeta apresenta-se bastante envolvido
com problemas religiosos e metafísicos, engajando-se plenamente no tema do
catolicismo e aprimorando o verso livre e a expressão metafórica. A essa fase
pertence o poema “A ave”.
c) Fase de Confirmação
Nessa fase, o poeta
consolida-se, afirma-se e recupera-se, como que confirmando todas suas
qualidades. Dessa fase é o poema épico-lírico Invenção de Orfeu (1952),
um dos mais belos livros de nossa literatura. Trabalhando conscientemente sobre
o modelo épico de Camões, Jorge Lima, preocupado com a
metalinguagem, apropria-se dos clássicos, numa técnica de colagem em que aparece, além de Camões, Dante,
Milton e Virgílio. Além disso, o poeta atualiza elementos de nossa
cultura - mitos luso-brasileiros fundem-se com suas leituras e seu conhecimento
histórico - e procura interpretar simbolicamente a relação do homem com o
universo.
Cecília Meireles e Vinícius de Morais têm um
ponto em comum: a música. Tendo ingressado no Conservatório de Música, Cecília
Meireles estudou canto, violino e piano. Vinícius compôs o seu
primeiro samba (música e letra) em 1953, participou do movimento Bossa Nova e,
com inúmeros parceiros, continuou compondo até seus últimos dias. Isso talvez
explique o fato de ambos serem poetas líricos por excelência (de lira,
instrumento musical de cordas). Lirismo que, a princípio, fora em ambos
expressão de um sentimento religioso, mas que aos poucos estendeu-se aos temas
universalizantes e cotidianos, como veremos a seguir.
8 - Vinícius de Morais
Marcus Vinícius de Melo
Morais
nasceu no Rio de Janeiro, em 1913 e faleceu no Rio de Janeiro no ano de 1980.
Bacharelou-se em Letras no Colégio Santo Inácio (RJ), em 1929, e formou-se em
Direito, em 1933. Dez anos depois, ingressou na carreira diplomática, tendo
servido em diversos países. Dedicou-se ao cinema e a música, destacando-se no
movimento de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar
Bossa Nova.
OBRAS:
Poesia: O caminho para a distância (1933); Forma e exegese (1935); Ariana,
a mulher (1936); Novos poemas (1938); Cinco
elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946); Pátria
minha (1949); Livro de sonetos (1957); Novos
poemas-II (1957).
Crônica: Para viver um grande
amor
(1962); Para uma menina como uma flor (1966).
Teatro: Orfel da Conceição (1960) - em versos; Procura-se uma rosa
(1961) - de colaboração com Pedro Bloch e Gláucio Gil; Cordélia
e o peregrino (1965) - em versos.
Obra completa: Publicada em
vida do autor e organizada com a sua assistência, reagrupa com outros títulos
as suas obras e incorpora texto esparsos e o conjunto de suas canções.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Compreende os livros: O
caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Adriana,
a mulher (1936), Novos poemas (1938) e Cinco
elegias (1943); este último, um livro de transição.
Em O caminho para a distância,
o poeta manifesta sua preocupação religiosa e sua angústia diante do mundo,
revelando também o seu conflito entre o sensualismo e o sentimento religioso. O
amor é tido como um elemento negativo que, ligando-o ao mundo terreno, impede a
libertação do espírito. O livro guarda um tom adolescente e as imagens não têm o vigor que alcançariam
mais tarde. Trata-se de uma obra imatura.
A partir de Forma
e exegese, os versos ganham liberdade expressiva e tornam-se mais
extensos. O poeta volta-se para o cotidiano, sem contudo abandonar o desejo de
transcendência. A mulher torna-se figura central de sua poesia - mais ainda
envolta por um forte misticismo, que contribui para a sua caracterização como
ser divinizado -, e o poeta procura harmonizar sensualismo e erotismo com
apelos espirituais.
O tom declamatório e os
versos longos, que nos lembram versículos bíblicos, mantêm o poeta ainda
distante das conquistas expressivas mais modernas.
Essa primeira fase, segundo
o próprio Vinícius, termina com Ariana, a mulher. Cinco
elegias seria o livro de transição.
Nessa fase sua temática
ganha novas características universalizantes e sociais, o que se exemplifica no
poema “O operário em construção”.
Poeta lírico por excelência,
Vinícius
alia temas modernos à mais apurada forma clássica de composição, o
soneto, deixando-nos obras-primas.
9- Cecília
Meireles
Cecília Meireles nasceu no Rio de janeiro em
1901 e faleceu na mesma cidade no ano de 1964. Diplomou-se como professora pela
Escola Normal (Instituto de Educação-RJ) em 1917. Além de se dedicar ao
magistério primário, colaborou nos principais jornais cariocas e deu cursos de
Literatura brasileira nos Estados Unidos e no México. Premiada duas vezes pela
Academia Brasileira de Letras, soma-se também à sua biografia o título de
doutora honoris causa, da Universidade de Delhi (Índia).
OBRAS:
Poesia: Espectros (1919); Nunca mais... e Poema dos poemas
(1923);
Baladas para El-rei (1925); Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar
absoluto (1945); Retrato natural (1949); Amor
em Leonoreta (1951); Doze noturnos da Holanda e O aeronauta
(1952); Romanceiro da Inconfidência (1953); Pequeno oratório de Santa Clara
(1955); Pistóia, cemitério militar brasileiro (1955); Canções
(1956); Romance de Santa Cecília (1957); Metal rosicler (1960);
Poemas escritos na Índia (1961); Solombra (1963); Ou
isto ou aquilo (1965); Crônica trovada (1965). As duas
últimas obras foram publicadas postumamente.
Publicou também crônicas,
textos para teatro, prosa poética e ficção.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Cecília Meireles estréia em 1919, com Espectros,
livro de influências parnasianas; lança a seguir Nunca mais... e Poema dos poemas
(1923) e Baladas para El-rei (1925), ambos de temática predominantemente
mística e que refletem a sua ligação com o grupo espiritualista da revista Festa.
Esses três primeiros livros seriam, mais tarde, postos de lado pela poetisa,
que não os inclui na edição de sua Obra poética, coletânea de 1958.
Cremos, portanto, que Cecília
Meireles preferiu tomar como ponto de partida de sua trajetória poética
o livro Viagem (1939), pelo qual recebeu o prêmio da Academia
Brasileira de Letras.
Viagem, livro que demonstra uma
maior maturidade poética, apesar de manter-se dentro dos padrões tradicionais,
ultrapassa o primeiro momento do Modernismo brasileiro (anedótico e
nacionalista). Ao gosto pela tradição, soma-se uma visão filosófica e
universalizante. As indagações sobre a brevidade da vida, o sentido da existência,
a solidão e a incompreensão humana, presentes em Viagem, permaneceriam em
quase toda sua obra, perpassada por um sentimento de pessimismo e desencanto.
2.2.5.3 -
Terceira fase
1 - Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu em Cotisburgo (MG) em
1908 e faleceu em 1967 no Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina e exerceu a
profissão até 1934, quando ingressa na carreira diplomática, servindo na
Alemanha, Colômbia e França. Em 1963, foi eleito membro da Academia Brasileira
de Letras, adiando a posse até 1967. Morreu neste ano três dias depois da
solenidade de posse, vítima de um colapso cardíaco.
OBRAS:
Conto: Sagarana (1946); Primeiras estórias
(1962); Tutaméia: terceiras estórias (1967); Estas estórias (1969) -
publicação póstuma.
Novela: Corpo de baile (1956) - publicado
posteriormente em três volumes: Manuelzão e Minguilim; No
urubuquaquá, no Pinhém; Noites do sertão.
Romance: Grande Sertão: veredas (1956).
Diversos: Com vaqueiro Mariano (1952); Ave, palavra (1970) -
publicação póstuma; O ministério dos MMM (em colaboração).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Embora de caráter
regionalista, a obra de Guimarães Rosa supera o regionalismo
tradicional, que ora idealizava o sertanejo, ora se comprazia com aspectos
meramente pitorescos, com o realismo documental ou com a transcrição da
linguagem popular e coloquial.
Essa superação deve-se à
riqueza de sua linguagem e ao caráter universal das questões morais e
metafísicas presentes em sua obra.
Criando um estilo
absolutamente novo na ficção brasileira, Guimarães Rosa estiliza o linguajar
sertanejo, recria e inventa palavras, mescla arcaísmos com vocábulos eruditos,
populares e modernos, combina de maneira original as palavras, prefixos e
sufixos, constrói uma sintaxe peculiar e explora as possibilidades sonoras da linguagem,
através de aliterações, onomatopéias, hiatos, ecos, homofonias etc.
No cerne dessa linguagem
nova, na qual prosa e poesia confundem-se, estão as indagações universais do
homem: o sentido da vida e da morte, a existência ou não de Deus e do diabo, o
significado do amor, do ódio, da ambição etc.
A exemplo de Guimarães
Rosa, Clarice Lispector teve grande destaque na terceira fase do
Modernismo brasileiro. Em sua obra, encontramos mudanças significativas na
prosa brasileira; mudanças essas que se verificam tanto ao nível da construção
como ao nível da temática. No que se refere à construção narrativa, observamos
o predomínio da introspecção, o rompimento com a linearidade episódica, que se
fragmenta em sua estrutura, a valorização dos aspectos psicológicos das
personagens em detrimento das ações e a opção pelo fluxo de consciência como
elemento norteador do processo narrativo. Quanto à temática, esta apresenta-se
profundamente marcada pelo existencialismo, questionando sempre o “estar no
mundo” e o sentido da existência e focalizando a solidão do homem e sua
angustiante dualidade entre uma existência autêntica ou inautêntica.
2 - Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia na cidade
de Tchetchelnik no ano de 1926 e faleceu no Rio de Janeiro em 1977. Clarice
Lispector tinha apenas dois meses de idade quando seus pais chegaram ao Brasil.
Criou-se no Recife, mudando-se para o Rio de Janeiro aos doze anos. Formou-se
em Direito e pôde conhecer vários países da Europa, acompanhando o marido, que era
diplomata. Aos dezessete anos de idade, escreveu seu primeiro livro, o romance
Perto do coração selvagem.
OBRAS:
Romance: Perto do coração
selvagem
(1944); O lustre (1946); A cidade sitiada (1949); A
maçã no escuro (1961); A paixão segundo G.H. (1964); Uma
aprendizagem ou O livro dos prazeres (1969); Água viva (1973); A
hora da estrela (1977).
Conto:
Alguns
contos (1952); Laços de família (1960); A
legião estrangeira (1964); Felicidade clandestina (1971); Imitação
da rosa (1973); A via-crucis do corpo (1974); A
bela e a fera (1979) - publicação póstuma.
Crônica: Visão do esplendor (1975); Para
não esquecer (1978) - publicação póstuma.
Literatura infantil: O mistério
do coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes (1969); A vida íntima de Laura (1974);
Quase
verdade (1978) - publicação póstuma.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Na obra de Clarice
Lispector, a caracterização das personagens e as ações são elementos
secundários. Importa-lhe captar a vivência interior das personagens e da
complexidade de seus aspectos psicológicos. Daí resultam uma narrativa
introspectiva e o monólogo interior, em que muitas vezes percebe-se o
envolvimento do narrador, ficando difícil estabelecer fronteiras entre narrador
e personagens. Essa centralização na consciência contribui para a digressão, a
fragmentação dos episódios e o desencadeamento do “fluxo de consciência”, isto
é, a expressão direta dos estados mentais, nos quais parece manifestar-se
diretamente o inconsciente, do que resulta certa perda de seqüência lógica.
Na trilha filosófica do
existencialismo, Clarice enfatiza a angústia do homem diante sua liberdade para
escolher o curso que deseja dar à sua vida. Essa escolha é necessária, já que
sua existência não está predeterminada, e a maneira de cada indivíduo ser e estar
no mundo e entendê-lo resulta de sua própria opção. Assim, ele tem a liberdade
de optar por uma vida autêntica e questionadora, mas isso provavelmente o
levará a enxergar um mundo absurdo em que nada faz sentido e, conseqüentemente,
a afundar-se num abismo de perplexidades. Por outro lado, pode refugiar-se da
banalidade do cotidiano e nos interesses imediatos, limitados e efêmeros, os
quais certamente nunca o deixarão plenamente satisfeito.
As narrativas de Clarice
Lispector quase sempre focalizam um monumento de revelação, um momento
especial em que a personagem defronta-se subitamente com verdade. Esse momento
especial é o que James Joyce chamou de epifania
(que, no vocabulário religioso, refere-se à manifestação divina). A
epifania é uma manifestação espiritual súbita, provocada por uma experiência
que, a princípio, mostra-se simples e rotineira, mas acaba por mostrar a força
de uma inusitada revelação. Os objetos mais simples, os gestos mais banais e as
situações mais cotidianas provocam uma iluminação repentina na consciência da
personagem.
Situado na chamada “geração
de 45”, João Cabral de Melo Neto dela se destaca com uma poesia cujo
traços essências são a concisão e a precisão. Preocupado com a organização do
texto, com rigor de sua construção, João Cabral identifica-se com o
“poeta-engenheiro” da forma poética, abdicando o sentimentalismo pela contenção
da subjetividade.
Dois aspectos principais
norteiam a sua poesia: auto-análise da composição poética, do que resultaram
inúmeros poemas metalingüísticos, e a temática social, voltada para o
sofrimento do homem nordestino.
3 - João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife (PE) no
ano de 1920. Passou a infância em Pernambuco e estudou com os Irmãos Maristas,
em Recife, mas não fez nenhum curso superior. Em 1942, mudou-se para o Rio de
Janeiro. Foi nomeado por concurso, Assistente de seleção do DASP, em 1943, e
diplomata, em 1945. Em 1947, foi servir em Barcelona, depois em Londres,
Servilha, Marcelha, Madri, Genebra, Berna e Assunção. Promovido a embaixador, em 1976, sua primeira
representação foi no Senegal. Atualmente ainda é membro do corpo diplomático.
Em 1968, foi eleito por unanimidade pela Academia Brasileira de Letras.
OBRAS:
Poesia: Pedra no sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia
da composição (1947); O cão sem plumas (1950); O rio
(1954); Morte e vida severina (1956); Paisagens com figuras
(1956); Uma faca só lâmina (1956); Terceira feira (1961), reunindo Quaderna,
Dois
parlamentos e serial; A educação pela pedra (1966); Museu
de tudo (1975); Poesia crítica (1982) - antologia; Auto
do frade (1984).
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
“Saio de meu poema / como
quem lava as mãos”. Esses versos que iniciam o poema “Psicologia da
composição”, revelam que para João Cabral de Melo Neto a poesia
deixa de ser fruto de um momento de inspiração e passa a ser o resultado de um
esforço cerebral, um trabalho de artesão da palavra. O ato de “lavar as mãos”
ao terminar um poema identifica-se com o fim do artesanato do escultor, do modelador.
E é à semelhança deles que João Cabral engendra a sua poesia, fazendo-a com
suor, preocupando-se com a organização do texto, a concisão e a precisão da
linguagem, e buscando a palavra objetiva, exata, para a concretização de uma
composição poética que mantém sob contenção a musicalidade fácil e repudia o
exagero metafórico.
Seu primeiro livro, Pedra
do sono (1942), reúne vinte poemas curtos, escritos aos vinte anos, nos
quais predominam imagens surrealistas.
Com O engenheiro (1945)
começam a se revelar os traços essenciais de sua poesia: o racionalismo e a
construção artesanal do poema. Desse livro é o poema “A lição de poesia”.
Com Psicologia da composição (1947),
João
Cabral dá o passo definitivo em direção à objetividade poética que
marca toda a sua obra a partir de então. O livro contém, em sua maioria, poemas
sobre o fazer poético, nos quais leva mais adiante a sua objetividade,
rejeitando a poesia como fruto de inspiração.
2.3 - Realismo
Um artigo publicado em 1826
no Mercure Français du XIXème Siècle apresentou a doutrina estética chamada
realismo. O movimento foi o primeiro a retratar a vida, aparência, problemas e
costumes das classes média e baixa, com seus fatos ordinários e banais.
Realismo é o estilo
artístico baseado na fiel e minuciosa reprodução de modelos da natureza e da
vida contemporânea. Em sentido amplo, o termo designa toda atividade artística
baseada na reprodução da realidade. Assim compreendido, o realismo se encontra,
por exemplo, nas artes plásticas de diferentes períodos, como entre os antigos
gregos, na obra de pintores do século XVII, como Caravaggio, Velázquez e
Zurbarán, e na literatura inglesa do século XVIII, com Daniel Defoe, Henry
Fielding e Tobias Smollett. Em sentido estrito, realismo é o movimento cultural
predominante na França entre 1850 e 1880, mas estendido a toda a Europa e a
outros continentes, que adotou pela primeira vez a reprodução da realidade como
programa estético, em substituição à arte inspirada em modelos do passado.
Os teóricos franceses do
realismo manifestavam seu repúdio à artificialidade do classicismo e do
romantismo, e enfatizavam a necessidade de conferir verdade e contemporaneidade
ao trabalho artístico. Os artistas integrantes do movimento propunham-se
conscientemente a retratar aspectos até então ignorados da sociedade e da vida
contemporâneas, no que diz respeito a atitudes mentais, condições materiais e
ambientes físicos.
O realismo foi estimulado
por várias manifestações intelectuais da primeira metade do século XIX, entre
as quais o movimento alemão anti-romântico, com sua ênfase no homem comum como
objeto da obra de arte; o positivismo de Comte, que enfatizava a importância da
sociologia como estudo científico da sociedade; o surgimento do jornalismo
profissional, com a proposta de um registro isento dos eventos contemporâneos;
e o advento da fotografia, capaz de reproduzir mecanicamente e com extrema
precisão as informações visuais.
2.3.1 - Artes plásticas
No início da década de 1830,
um grupo de pintores, entre os quais Théodore Rousseau, Charles-François
Daubigny e Jean-François Millet, estabeleceu-se no povoado francês de Barbizon
com a intenção de reproduzir as características da paisagem local. Cada um com
seu estilo, enfatizaram em seus trabalhos o simples e ordinário, ao invés dos
aspectos grandiosos da natureza. Millet foi um dos primeiros artistas a pintar
camponeses dando-lhes um destaque até então reservado a figuras de alto nível
social. Outro importante artista francês freqüentemente associado ao realismo
foi Honoré Daumier, ardente democrata que usou a habilidade como caricaturista
a favor de suas posições políticas.
O primeiro pintor a enunciar
e praticar deliberadamente a estética realista foi Gustave Courbet. Como a
enorme tela "O estúdio" foi rejeitada pela Exposition Universelle de
1855, o artista decidiu expor esse e outros trabalhos num pavilhão
especialmente montado e deu à mostra o nome de "Realismo, G.
Courbet". Adversário da arte idealista, incitou outros artistas a fazer da
vida comum e contemporânea motivo de suas obras, no que considerava uma arte
verdadeiramente democrática. Courbet chocou o público e a crítica com a rude
franqueza de seus retratos de operários e camponeses em cenas da vida diária.
O realismo tornou-se uma
corrente definida na arte do século XX. A ela se integram as cenas quase
jornalísticas do lado mais desagradável da vida urbana produzidas pelo grupo
americano conhecido como Os Oito, e a expressão do cinismo e da desilusão do
período após a primeira guerra mundial na Alemanha, presente nas obras do
movimento conhecido como Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade).
O realismo socialista,
adotado como estética oficial na União Soviética a partir dos primeiros anos da
década de 1930, foi pouco fiel às características originais do movimento. Embora
se propusesse também a ser um espelho da vida, sua veracidade deveria estar de
acordo com a ideologia marxista e as necessidades da construção do socialismo.
O maior teórico do realismo socialista foi o húngaro György Lukács, para quem o
realismo não se limita à descrição do que existe, mas se estende à participação
ativa do artista na representação das novas formas da realidade. Essa doutrina
foi implementada na União Soviética por Andrei Jdanov. Em pintura, destacou-se
entre os soviéticos Aleksandr Gherassimov. Os retratos de intrépidos
trabalhadores produzidos dentro da linha do realismo socialista, no entanto,
deixam transparecer um positivismo heróico, mas a ambição realista perde-se na
idealização de uma organização social perfeita. Grande número de artistas
soviéticos, partidários de uma sociedade de justiça social mas cerceados em sua
liberdade essencial de criar, abandonaram o realismo socialista, deixaram a
União Soviética e se integraram aos movimentos artísticos do Ocidente.
2.3.2 -
Literatura
Oposição ao idealismo e ao
romantismo, isto é, à idealização e ao subjetivismo que abordam temas
desligados da vida comum, a narrativa realista teve como principais características a localização
precisa do ambiente, a descrição de costumes e acontecimentos contemporâneos em
seus mínimos detalhes, a reprodução da linguagem coloquial, familiar e regional
e a busca da objetividade na descrição e análise dos personagens. O romantismo
do final do século XVIII e início do XIX, com sua ênfase no individualismo e na
exaltação dos sentimentos, era sua antítese. Contudo, a crítica moderna mostrou
haver ali certos elementos que prepararam o advento do realismo. Assim, a
introdução do concreto na arte, do familiar na linguagem, do documental e do
exótico, do método histórico na crítica, foram obra do romantismo. Isso
possibilitou que muitos escritores, como Stendhal e Balzac, participassem de
ambos os movimentos, com predominância ora da imaginação, ora da observação.
Honoré de Balzac foi o
grande precursor do realismo literário, com a tentativa de criar um detalhado e
enciclopédico retrato da sociedade francesa na obra La Comédie humaine
(1834-1837; A comédia humana). Mas a primeira proposta realista deliberada
surgiu apenas na década de 1850, inspirada pela pintura de Courbet. O
jornalista francês Jules-François-Félix-Husson Champfleury divulgou o trabalho
do pintor e transferiu seus conceitos para a literatura em Le Réalisme (1857).
No mesmo ano, publicou-se o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Retrato
implacável da mentalidade burguesa, com seu exame minucioso das emoções de uma
mulher infeliz de classe média, é a obra-prima do realismo e responsável pela
sedimentação do movimento na literatura européia. Os irmãos Jules e Edmond
Goncourt, em Germinie Lacerteux (1864) e outros trabalhos, descrevem grande
variedade de ambientes, assim como as relações entre as classes sociais.
Os princípios do realismo
dominaram a literatura européia durante as décadas de 1860 e 1870. Charles
Dickens e George Eliot na Inglaterra, Lev Tolstoi e Fiodor Dostoievski na
Rússia, e, mais tarde, o jovem Thomas Mann, na Alemanha, todos incorporaram
elementos realistas a seus romances. Os representantes do movimento adotaram
uma concepção filosófica inspirada no positivismo e no determinismo científico
de sua época e atitudes liberais, republicanas e anticlericais. Como
significativo desdobramento, o naturalismo do final do século XIX e início do
XX, que teve como principal expoente Émile Zola, levou às últimas conseqüências
e a detalhes íntimos a proposta de representação fiel do quotidiano comum.
Na poesia, o realismo
encontrou correspondência no parnasianismo, com seu culto da objetividade, da
forma impecável, da arte pela arte, tal como foi expressa por Théophile
Gautier, Leconte de Lisle e Sully Prudhomme.
Assimilação portuguesa
Em Portugal, o movimento
realista é da maior importância pela mudança radical que operou na consciência
literária e na mentalidade dos intelectuais. Eclodiu com a chamada Questão
Coimbrã, polêmica literária que opôs, de
um lado, Antero de Quental, Teófilo Braga e a geração de escritores surgida na
década de 1860 e, de outro, os representantes da geração anterior. Em 1871, Eça
de Queirós proferiu uma conferência denominada "Realismo como nova
expressão da arte" e, dois anos depois, publicou o conto
"Singularidades duma rapariga loira", considerado a primeira
narrativa realista escrita em português. A arte nova, para seus principais
representantes, devia consistir na observação e experiência, na análise psicológica
dos tipos, no esclarecimento dos problemas humanos e sociais, no
aperfeiçoamento da literatura, isenta da retórica, da fantasia, da arte pura.
Era uma arte revolucionária.
O crime do padre Amaro
(1875) e O primo Basílio (1876), de Eça de Queirós, consolidaram o realismo
português. Em ambos os romances, a descrição minuciosa e a análise psicológica
baseada em princípios deterministas, nas idéias da hereditariedade e influência
do meio, além da severa crítica de costumes, tomam nítida feição naturalista.
Apesar da oposição do público e da crítica, o movimento progrediu com
José-Francisco de Trindade Coelho, Fialho de Almeida e Francisco Teixeira de
Queirós. Na década de 1890, o realismo, confundido ao naturalismo, perdera
muito de sua força. Mais que uma escola literária, o realismo português pode
ser considerado um novo sentimento e uma nova atitude, em reação ao idealismo
romântico.
2.3.3 - Realismo no Brasil
O forte caráter ideológico
que permeou o realismo europeu, tanto na pintura como na literatura, não teve
correspondente exato no Brasil. Mais precisamente, foram consideradas realistas
as obras brasileiras que, por características anti-românticas, não se
enquadravam nas classificações da época e denotavam uma nova estética. Nesse
sentido mais amplo, pode-se dizer que traços realistas estiveram presentes em
obras anteriores ao surgimento da ficção propriamente brasileira, como no
teatro de costumes de Martins Pena e na poesia de Gregório de Matos.
Contemporaneamente ao movimento europeu, a estética realista manifestou-se no
país com a geração de 1870, especialmente em Recife, com o grupo liderado pelos
críticos literários Tobias Barreto e Sílvio Romero, em reação ao romantismo
decadente. Na ficção, a obra de Machado de Assis e Raul Pompéia aprofundou o
realismo psicológico, além do ambiental. O ateneu (1888), de Raul Pompéia, foi
romance ousado e surpreendente para sua época, enquanto Memórias póstumas de
Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1900) e Memorial de
Aires (1907), de Machado de Assis, apresentam inovações também do ponto de
vista da linguagem e da estrutura formal. O naturalismo de Zola inspirou as
obras de Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa e Adolfo Caminha.
O realismo brasileiro acabou
também por provocar uma espécie de tomada de consciência geral em todos os
campos do conhecimento, traduzida, inclusive, em participação política ativa de
numerosos intelectuais, que desde essa época começaram a interessar-se mais
objetivamente pelos problemas nacionais e suas soluções. Superado o realismo
como escola, permanece a idéia, que lhe é essencial, de aproximar cada vez mais
a arte da vida. As tendências contemporâneas prosseguem buscando-a, como o
provam tendências estéticas inspiradas no socialismo, na psicanálise e no
existencialismo, tais como o realismo socialista, o expressionismo e o nouveau
roman.
2.3.3.1 - Teatro
O realismo no teatro
orientou, no final do século XIX, os textos e as montagens no sentido da
naturalidade e da reprodução do quotidiano. Henrik Ibsen e August Strindberg na
Escandinávia, Anton Tchekhov e Maksim Gorki na Rússia, entre outros, rejeitaram
a linguagem poética, a declamação e a dicção artificial e usaram ação e
diálogos calcados no comportamento e fala diários. Os cenários retratavam o
mais fielmente possível os ambientes.
2.4 - Simbolismo
No final do século XIX,
época em que predominavam as idéias positivistas e mecanicistas a que a
humanidade foi levada pelo anseio de objetividade, o simbolismo enfatizou o
valor intrínseco do indivíduo e de sua realidade subjetiva.
Simbolismo é o nome da
tendência literária -- sobretudo poética -- que surgiu na França durante as
duas últimas décadas do século XIX, como reação à impassibilidade e à rigidez
das fórmulas parnasianas e, secundariamente, à crueza do romance naturalista.
No plano social e filosófico, constituiu uma réplica ao positivismo
científico-mecanicista e ao realismo objetivo que dominaram a segunda metade do
século XIX. Também foi chamado simbolismo o movimento surgido à mesma época na
pintura, como reação ao impressionismo e ao naturalismo.
2.4.1 -
Pré-simbolistas
O emprego de símbolos em
literatura não constituiu invenção ou privilégio dos poetas da nova escola.
Vários autores anteriores já haviam utilizado os mesmos elementos pelos quais o
simbolismo se definiu. Entre eles, os mais citados pelos integrantes do próprio
movimento são Charles Baudelaire e Arthur Rimbaud.
O soneto
"Correspondances", de Baudelaire, é geralmente tomado como ponto de
partida para o estabelecimento dos cânones formais e de conteúdo do simbolismo.
Nele estariam esboçadas as diretrizes fundamentais do movimento. Com base nas
teorias de Edgar Allan Poe sobre a criação poética, Baudelaire entendia o poeta
como intérprete de uma simbologia universal que manifesta uma idéia por meio de
cada objeto do mundo sensível. Assim, a criação poética e a criação cósmica
seriam paralelas. A estética de Baudelaire tinha uma clara afinidade com quatro
autores cujas teorias embasaram a estética simbolista: Novalis, Poe, Richard
Wagner e o místico sueco Emanuel Swedenborg.
Outro dos precursores do
movimento foi Villiers de L'Isle-Adam. Em sua obra, em especial na peça Axel,
publicada postumamente em 1890, estão presentes quase todos os elementos da
poética de Baudelaire e da dramaturgia wagneriana, além do esteticismo, do
misticismo e do evasionismo que caracterizam a primeira fase do simbolismo.
Dois nomes, os de
Lautréamont e Rimbaud, se destacam entre os poetas franceses cujas obras se
situam entre o lançamento de Fleurs du mal (1857; Flores do mal) e a maturidade
do simbolismo, alcançada por volta de 1880. O Rimbaud pré-simbolista brilha
muito rapidamente nos poemas da primeira fase, à qual pertence o soneto
"Les Voyelles" ("As vogais") e outras peças igualmente
baudelairianas, como é o caso de "Les Chercheuses de poux" ("As
catadoras de piolhos").
Início do movimento
Na década de 1870 ainda dominava o
parnasianismo, ao lado das tendências realistas e naturalistas, que
privilegiavam a reprodução fiel da natureza e enfatizavam as descrições objetivas,
a exterioridade e o quotidiano. Oficialmente, o simbolismo só teve início em
1886, com a publicação, no suplemento literário do jornal parisiense Le Figaro,
do manifesto de Jean Moréas, poeta francês nascido na Grécia. O manifesto
declarava que o simbolismo, em sua radical oposição ao positivismo, ao realismo
e ao naturalismo, era um movimento idealista e transcendente, contrário às
descrições objetivas, à ciência positiva, ao intelectualismo e à rigidez formal
do parnasianismo.
O principal órgão da escola
foi o Mercure de France, fundado em 1889 e de imediato reconhecido como a
primeira revista literária do mundo. Os representantes da primeira fase do
movimento, sob influência direta de Baudelaire e Poe, postulavam também a
simultaneidade da criação poética e da criação cósmica. Reclamavam para o
artista a condição de intérprete de uma simbologia universal, a ser apreendida
por intuição e expressa por alusões ou sugestões, e não pela lógica.
Esoterismo, hermetismo,
decadentismo. Uma das características básicas da arte simbolista foi o papel
representado pelo inconsciente na atividade criadora, o que levou os poetas do
movimento a buscarem motivação no misticismo e nas doutrinas esotéricas. Outro
de seus aspectos inconfundíveis, que deu origem a inúmeros escândalos e motivou
violenta reação da crítica tradicionalista, foi o hermetismo. Em Portugal e no
Brasil, os simbolistas chegaram a receber por isso a designação pejorativa de
"nefelibatas". O decadentismo caracterizou certa poesia e prosa
simbolistas, em que os autores se colocavam como testemunhas de um universo em
decadência, de um fin de siècle que seria, também, o fim do mundo. Nem mesmo
Mallarmé escapou a tal sentimento, apenas um momento efêmero do simbolismo, que
recebeu o veto posterior de seus representantes.
2.4.2 - Mallarmé e Verlaine
O núcleo do simbolismo
francês residiu, sem dúvida, na obra de Stephane Mallarmé, consumado artista do
verso, cujas potencialidades rítmicas e musicais explorou à exaustão. Deu
início também ao hermetismo, à poesia pura da chamada "torre de
marfim", onde se reuniam os evasionistas e os experimentalistas do verso e
do verbo. Em razão disso, sucederam-se as interpretações da obra de Mallarmé.
Essas interpretações chegavam às vezes ao absurdo de atribuir ao hermetismo do
poeta veladas intenções filosóficas, sobretudo de linhagem hegeliana.
A poesia de Verlaine teve
seu valor cada vez mais ameaçado pelos modernos. Embora o público continuasse a
prestigiá-lo, sua influência sobre a literatura posterior está muito longe de
se comparar à que exerceu Mallarmé. Na verdade, Verlaine está muito mais
próximo dos românticos do que dos simbolistas. Em sua melhor produção, o que
persiste é romântico e não simbolista. Simbolista era o processo formal de
composição da poética de Verlaine, mas não o produto dela.
2.4.3 -
Reações ao simbolismo
A crítica da época recebeu muito mal o que
chamou "escândalo" e "barbárie" simbolistas. Anatole France
e Jules Lemaître desdenharam logo o movimento. A crítica oficial recusou-se a
admitir toda a poesia posterior a Baudelaire. Max Nordau também não poupou o
simbolismo e chegou mesmo a propor uma "terapêutica" para os poetas
do movimento, aos quais batizou de "malsãos", enquanto o crítico
espanhol Alas, ancorado nas doutrinas naturalistas, chamou-os de
"medíocres".
Por volta de 1890, o
movimento simbolista francês já dava mostras de esgotamento e, cinco anos mais
tarde, entrava em franco declínio, o que deu origem a várias deserções. A mais
surpreendente foi a de Jean Moréas, autor do manifesto de 1886 e que, em 1891,
lançou os fundamentos da École Romane, que postulava o retorno aos rígidos
moldes formais do classicismo latino.
A École não teve destino
muito feliz e, pouco tempo depois, caiu em descrédito e foi violentamente
criticada pelos primeiros modernistas. O simbolismo transcendeu os limites de
suas atividades programáticas e deu origem à poesia pós-simbolista que, a
rigor, já pertence ao modernismo. Essa herança é especialmente evidente na
poesia de Paul Valéry, discípulo de Mallarmé, de Rainer Maria Rilke, T. S.
Eliot, William Butler Yeats, Juan Ramón Jiménez e Paul Claudel, entre outros.
Autores como Marcel Proust e James Joyce, dois mestres do romance, também muito
devem à estética e ao estilo simbolistas, a exemplo do que ocorre também com
Maurice Barrès, Alain Fournier, Thomas Mann, Knut Hamsun e vários poetas da
moderna literatura americana.
2.4.4 – Simbolismo no Brasil
Ao contrário do que ocorreu
na Europa e nos demais países da América Latina, o simbolismo brasileiro antecedeu
o neoparnasianismo, que a crítica e o gosto popular consagraram, e foi por ele
rapidamente absorvido. Quando tentou revigorar-se, após o declínio
neoparnasiano, viu-se marginalizado pelos primeiros modernistas. O primeiro
simbolista brasileiro -- e também o maior poeta de todo o movimento -- foi João
da Cruz e Souza, que se rebelou contra a sintaxe tradicional portuguesa e
introduziu no Brasil as conquistas estilísticas da escola francesa. Outro
grande simbolista foi Alphonsus de Guimaraens, poeta intimista, dominado pelo
sentimento da morte e por suave misticismo.
2.4.5 – Pintura simbolista
Nascido por volta de 1885
como reação ao impressionismo, o simbolismo na pintura só se desenvolveu
plenamente a partir de 1889 -- o mesmo ano da exposição do grupo impressionista
e sintético, formado por Gauguin e pelos componentes da escola de Pont-Aven, no
Café Volpini, em Paris. Os simbolistas cultivavam o gosto pelas superfícies
planas e achatadas, propunham a simplificação do desenho e valorizavam a cor
pelo uso de largas pinceladas em áreas cromáticas rigorosamente planas,
limitadas por linhas negras. O resultado se afastava bastante das formas
visuais da natureza.
Os três grandes pintores do simbolismo são Gustave
Moreau, Puvis de Chavannes e, sobretudo, Odilon Redon. Moreau influenciou
Pierre Bonnard, Jean-Edouard Vuillard, Albert Roussel, Maurice Denis e outros,
que, de certo modo, preludiam o surrealismo. Puvis de Chavannes, que
influenciou Gauguin e bom número de jovens pintores de seu tempo, parece hoje um
mestre secundário. Odilon Redon, amigo de Mallarmé, é o mais importante dos
pintores do grupo, o único que soube criar uma linguagem plástica particular e
original.
2.5 – Parnasianismo
Uma das maiores preocupações
na composição poética dos parnasianos era a precisão das palavras. Esses poetas
chegaram ao ponto de criar verdadeiras línguas artificiais para obter o
vocabulário adequado ao tema de cada poema.
Movimento literário surgido
na França em meados do século XIX, em oposição ao romantismo, o parnasianismo
representou na poesia o espírito positivista e científico da época,
correspondente ao realismo e ao naturalismo na prosa. O termo parnasianismo
deriva de uma antologia, Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo),
publicada em fascículos, de março a junho de 1860, com os versos dos poetas
Théophile Gautier, Théodore de Banville, Leconte de Lisle, Charles Baudelaire,
Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé, François Coppée, o cubano de expressão
francesa José Maria de Heredia e Catulle Mendès, editor da revista. O Parnaso é
um monte da Grécia central onde na antiguidade acreditava-se que habitariam o
deus Apolo e as musas.
2.5.1 – Antecedentes
A partir de 1830, alguns poetas românticos se
agruparam em torno de certas idéias estéticas, entre as quais a da arte pela
arte, originária daquele movimento. Duas tendências se defrontavam: a intimista
(subjetiva) e a pitoresca (objetiva). O romantismo triunfara em 1830, e de
Victor Hugo provinham as grandes fontes poéticas, mas o lirismo intimista não mais
atraía os jovens poetas e escritores, que buscavam outros objetos além do eu.
A doutrina da arte pela arte
encontrou seu apóstolo em Gautier, que foi o pioneiro do parnasianismo. Nos
prefácios de dois livros, Poésies (1832) e Jeune France (1833; Jovem França),
Gautier expôs o código de princípios segundo o qual a arte não existe para a
humanidade, para a sociedade ou para a moral, mas para si mesma. Ele aplicou
essa teoria ao romance Mademoiselle de Maupin (1836), que provocou acirradas
polêmicas nos círculos literários por desprezar a moral convencional e
enfatizar a soberania da beleza. Mais tarde publicou Emaux et camées (1852;
Esmaltes e camafeus), que serviu de ponto de partida para outros escritores de
apurado senso estético, como Banville e Leconte. Este último publicou, em 1852,
os Poèmes antiques (Poemas antigos), livro em que reuniu todos os elementos
formais e temáticos da nova escola. Ao lado de Poèmes barbares (1862; Poemas
bárbaros), essa obra deu ao autor um imenso prestígio e a liderança do
movimento, de 1865 a 1895. Em torno dele reuniram-se Mendès, Sully Prudhomme,
Heredia, Verlaine e Coppée.
Outros precursores, como
Banville e Baudelaire, pregaram o culto da arte da versificação e da perfeição
clássica. À época, eram muito valorizados e vistos com curiosidade os estudos
arqueológicos e filológicos, a mitologia, as religiões primitivas e as línguas
mortas. Os dois livros de Leconte iniciaram uma corrente pagã de poesia,
inspirada nesses estudos orientais, místicos, primitivos, "bárbaros",
no sentido de estranhos ao helenismo, que ele procurava ressuscitar com
traduções de Homero.
2.5.2 – Características
O
movimento estendeu-se por
aproximadamente quatro décadas, sem que se possa indicar limite preciso
entre ele e o romantismo, de um lado, e o simbolismo, do outro. Uma de suas
linhas de força, o culto da beleza, uniu parnasianos e simbolistas. No entanto,
pode-se distinguir alguns traços peculiares a cada movimento: a poesia
parnasiana é objetiva, impessoal, contida, e nisso se opõe à poesia romântica.
Limita-se às descrições da natureza, de maneira estática e impassível,
freqüentemente com elemento exótico, evocações históricas e arqueológicas,
teorias filosóficas pessimistas e positivistas. Seus princípios básicos
resumem-se nos seguintes: o poeta não deve expor o próprio eu, nem fiar-se da
inspiração; as liberdades técnicas são proibidas; o ritmo é da maior
importância; a forma deve ser trabalhada com rigor; a antigüidade grega ou
oriental fornece modelos de beleza impassível; a ciência, guiada pela razão,
abre à imaginação um vasto campo, superior ao dos sentimentos; a poesia deve
ser descritiva, com exatidão e economia de imagens e metáforas, em forma
clássica e perfeita.
Dessa maneira, o
parnasianismo retomou as regras neoclássicas introduzidas por François de
Malherbe, poeta e teórico francês que no início do século XVII preconizou a
forma estrita e contida e acentuou o predomínio da técnica sobre a inspiração.
Dessa forma, o parnasianismo foi herdeiro do neoclassicismo, do qual se fez
imitador. Seu amor ao pitoresco, ao colorido, ao típico, estabelece a diferença
entre os dois estilos e o torna um movimento representativo do século XIX.
A evolução da poesia
parnasiana descreveu, resumidamente, um percurso que se iniciou no romantismo,
em 1830, com Gautier; conquistou com Banville a inspiração antiga; atingiu a
plenitude com Leconte de Lisle; e chegou à perfeição com Heredia em Les
Trophées (1893; Os troféus). Heredia, que chamou a França de "pátria de
meu coração e mente", foi um brilhante mestre do soneto e grande amigo de
Leconte de Lisle. Ele reuniu as duas tendências principais do parnasianismo --
a inspiração épica e o amor à arte-- e procurou sintetizar quadros históricos
em sonetos perfeitos, com rimas ricas e raras. Heredia foi a expressão
derradeira do movimento, e sua importância é fundamental na história da poesia
moderna.
O parnasianismo foi
substituído mas não destruído pelo simbolismo. A maioria dos poetas simbolistas
na verdade começou fazendo versos parnasianos. Fato dos mais curiosos na
história da poesia foi Le Parnasse contemporain ter servido de ponto de partida
tanto do parnasianismo quanto do simbolismo, ao reunir poetas de ambas as
escolas, como Gautier e Leconte, Baudelaire e Mallarmé.
Da França, o parnasianismo difundiu-se
especialmente pelos países de línguas românicas. Em Portugal, seus expoentes
foram Gonçalves Crespo, João Penha e Antônio Feijó. O movimento alcançou êxito
principalmente na América espanhola, com o nicaragüense Rubén Darío, o
argentino Leopoldo Lugones, o peruano Santos Chocano, o colombiano Guillermo
Valencia e o uruguaio Herrera y Reissig.
2.5.3 – Parnasianismo no Brasil
O movimento parnasiano teve
grande importância no Brasil, não apenas pelo elevado número de poetas, mas
também pela extensão de sua influência. Seus princípios doutrinários dominaram
por muito tempo a vida literária do país. Na década de 1870, a poesia romântica
deu mostras de cansaço, e mesmo em Castro Alves é possível apontar elementos
precursores de uma poesia realista. Assim, entre 1870 e 1880 assistiu-se no
Brasil à liquidação do romantismo, submetido a uma crítica severa por parte das
gerações emergentes, insatisfeitas com sua estética e em busca de novas formas
de arte, inspiradas nos ideais positivistas e realistas do momento.
Dessa maneira, a década de
1880 abriu-se para a poesia científica, a socialista e a realista, primeiras
manifestações da reforma que acabou por se canalizar para o parnasianismo. As
influências iniciais foram Gonçalves Crespo e Artur de Oliveira, este o
principal propagandista do movimento a partir de 1877, quando chegou de uma
estada em Paris. O parnasianismo surgiu timidamente no Brasil nos versos de
Luís Guimarães Júnior (1880; Sonetos e rimas) e Teófilo Dias (1882; Fanfarras),
e firmou-se definitivamente com Raimundo Correia (1883; Sinfonias), Alberto de
Oliveira (Meridionais) e Olavo Bilac (1888; Poesias).
O parnasianismo brasileiro,
a despeito da grande influência que recebeu do parnasianismo francês, não é uma
exata reprodução dele, pois não obedece à mesma preocupação de objetividade, de
cientificismo e de descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico, mas
não exclui o subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso alexandrino
de tipo francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o soneto.
Quanto ao assunto, caracteriza-se pelo realismo, o universalismo e o
esteticismo. Este último exige uma forma perfeita quanto à construção e à
sintaxe. Os poetas parnasianos vêem o homem preso à matéria, sem possibilidade de
libertar-se do determinismo, e tendem então para o pessimismo ou para o
sensualismo.
Além de Alberto de Oliveira,
Raimundo Correia e Olavo Bilac, que configuraram a trindade parnasiana, o
movimento teve outros grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho,
Machado de Assis, Luís Delfino, Bernardino da Costa Lopes, Francisca Júlia,
Guimarães Passos, Carlos Magalhães de Azeredo, Goulart de Andrade, Artur
Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de Meneses, Augusto de Lima e Luís Murat.
A partir de 1890, o simbolismo
começou a superar o parnasianismo. O realismo classicizante do parnasianismo
teve grande aceitação no Brasil, graças certamente à facilidade oferecida por
sua poética, mais de técnica e forma que de inspiração e essência. Assim, ele
foi muito além de seus limites cronológicos e se manteve paralelo ao simbolismo
e mesmo ao modernismo.
O prestígio dos poetas
parnasianos, ao final do século XIX, fez de seu movimento a escola oficial das
letras no país durante muito tempo. Os próprios poetas simbolistas foram
excluídos da Academia Brasileira de Letras, quando esta se constituiu, em 1896.
Em contato com o simbolismo, o parnasianismo deu lugar, nas duas primeiras
décadas do século XX, a uma poesia sincretista e de transição.
2.6 – Concretismo
Na linha de Malevitch,
Mondrian e outros precursores da abstração geométrica, o concretismo objetivava
uma arte pautada pela racionalidade, contra a expressão de sentimentos e a
representação naturalista.
Rejeitando o subjetivismo e
o acaso, os concretistas pretendiam sobretudo ser designers de formas: quadros
sem texturas e poemas sem versos.
2.6.1 – Antecedentes
Na Europa, o ano de 1930
marcou um momento fundamental para o concretismo com o lançamento em Paris de
Art Concret, revista de um grupo liderado pelo pintor Theo van Doesburg, que em
seu primeiro número propunha "destruir as formas-natureza e substituí-las
por formas-arte". As idéias de van Doesburg, que já descendiam do
neoplasticismo de Piet Mondrian, foram retomadas a partir de 1936 por Max Bill,
cuja vertente particular de concretismo, baseada na Suíça, exerceu influência
na Argentina, no Brasil e na Alemanha.
Uma das contribuições mais
originais do concretismo foi abordar os problemas da criação plástica junto com
os problemas da criação poética, subordinando todos eles aos problemas da
forma. Assim como a pintura geometrizada adotou a concretude das linhas e dos
planos, abolindo as ilusões representativas, a poesia concreta, dando o verso
por extinto, adotou o espaço gráfico como agente estrutural do poema. Em lugar
da sintaxe discursiva tradicional propôs a sintaxe analógica, ideogrâmica, que
permitia a justaposição de conceitos.
Contra a poesia subjetiva,
de expressão ou representação, a poesia concreta queria ser objetiva,
sintética, presentativa - mais para ser percebida como um todo do que lida em
frações. O material lingüístico, as palavras reduzidas a seus elementos visuais
(letras) e fonéticos (sílabas), era relacionado ao espaço, donde a importância
atribuída a sua distribuição na página. Os concretistas apresentavam como seus
precursores, por terem tido preocupações semelhantes, o Stephane Mallarmé de
"Un coup de dés" (Lance de dados), Ezra Pound (Cantos), e. e.
cummings, Guillaume Apollinaire (Calligrammes), os futuristas e os dadaístas.
As primeiras manifestações
de poesia concreta surgiram com a década de 1950, mas já em 1943 o italiano
Carlo Belloli havia exposto um mural de textos-poemas. Em 1952 o sueco Eyvind
Fahlström escreveu poemas concretos e, um ano depois, publicou o Manifest för
konkret poesie (1953; Manifesto de poesia concreta). De particular importância
foi a atividade do suíço-boliviano Eugen Gomringer, autor de Konstellationen
(1955; Constelações), quase simultânea à atividade desenvolvida no Brasil pelo
grupo paulista da revista Noigandres.
2.6.2 –
Brasil
O concretismo brasileiro,
cujas propostas e invenções foram divulgadas a partir de 1952 pela
revista-livro Noigandres firmou-se nos anos seguintes como movimento ativo e
influente. Era uma fase de intensa industrialização no país, à qual suas
propostas correspondiam. O movimento lançou-se oficialmente com a I Exposição
Nacional de Arte Concreta, realizada em 1956 no Museu de Arte Moderna de São
Paulo. Além dos três poetas de São Paulo que haviam iniciado o movimento, os
irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, participaram do evento
alguns poetas do Rio que aderiram ao grupo, como Ferreira Gullar e Vlademir
Dias Pino. Entre os artistas plásticos, o concretismo já contava a essa altura
com a adesão de Hélio Oiticica, Lígia Clark, Ivan Serpa, Franz Josef Weissmann
e Aluísio Rodrigues Carvão, entre muitos outros.
Dissidentes do grupo paulista,
encabeçados por Ferreira Gullar e Reinaldo Jardim, organizaram-se como
neoconcretos no Rio de Janeiro, em 1957, admitindo a presença de elementos
subjetivos na estruturação do poema e fazendo do Suplemento Dominical do Jornal
do Brasil seu porta-voz. Aos dois poetas reuniram-se em 1959, na Exposição de
Arte Neoconcreta no Museu de Arte Moderna do Rio, os artistas Amílcar de
Castro, Franz Weissmann, Lígia Clark, Lígia Pape e Theon Spanudis.
III – Conclusão
Conclui-se
que as fases que constituíram as mudanças na arte: literatura, música, artes
plásticas, teatro; foram seguindo o seu curso de acordo com os acontecimentos
do mundo ao seu redor, ou seja, se excluindo quando o mundo sofria as mais
terríveis mudanças, guerras, ditaduras, a arte segue a padrões que seguem ao
modelo desenhado pela sociedade e situação de tal na época relacionada.
Cada
geração de artistas tinham em seu interior uma maneira de se expressar, alguns
bastante claros e outros, ocultos, alguns excluindo-se da realidade que o
segue, e outros a denunciando, mas todos, em todas as épocas foram modelados
pela estrutura sociológica de seu tempo ou período.
As
emoções sentidas pelos artistas são as mãos que fazem o seu trabalho, um
simples quadro ou pintura ou verso não revela apenas um mundo pequeno e vazio,
revela o tempo em que a pessoa está vivendo, o que ela está sentindo e o que as
pessoas ao seu redor estão sentindo. A arte foi e sempre será a maneira mais
simples e clara de expressar em pouco espaço, tantos dados e sentimentos.
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