quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Projeto Futuridade


O Governo do Estado apresenta nesta terça-feira, 11, o Plano Estadual para Pessoa Idosa - Futuridade, com o objetivo de estimular e apoiar ações em benefício de quem já tem mais de 60 anos e garantir condições de envelhecimento com dignidade a todos os idosos. Com a presença do governador José Serra, serão também apresentados resultados e metas do projeto Envolver, da Rede Social de São Paulo, criado para aproximar pessoas e entidades que atuam no atendimento à infância e juventude.

Proposta de redação





Respeitar os idosos é aceitar o próprio futuro

O que temos ensinado aos nossos filhos a respeito da velhice? Pelo jeito, não temos passado boas lições sobre o assunto, e quem levantou o tema de nossa conversa de hoje foi o pai de um bebê de dez meses. Em sua correspondência, ele conta que teve de ir a um ambulatório de um hospital e, na sala de espera, encontrou muita gente. Acomodados nas cadeiras disponíveis no local estavam vários jovens e adultos e, em pé, várias senhoras -com mais de 70 anos-, uma delas cega. Parece que ninguém "viu" as idosas, ou seja, ninguém cedeu o lugar mais confortável a elas.

"O que aconteceu? De quem é a culpa pelo comportamento dessa geração que não se importa se um senhor com bengala está em pé com muito custo? Das escolas? Dos pais, que não ensinam o respeito aos outros -ou, se ensinam, praticam o oposto?" A indignação e a reflexão de nosso leitor, expressas nessas perguntas, fazem muito sentido. Só que pais e escolas não estão sozinhos nessa história.

É bom lembrar que vivemos um tempo em que ninguém quer envelhecer: usamos todos os recursos para maquiar a idade e temos bons motivos para isso. O velho não é bem-visto -nem sequer é visto- pela sociedade. Quem tem mais de 50 anos tem dificuldade para arrumar emprego, encontrar um parceiro quando está sozinho, ter um programa de lazer adequado e ser respeitado pelas crianças e pelos jovens. A palavra "coroa" deixou de ter um sentido carinhoso -se é que um dia já teve- e passou a ser pejorativa. Ofende-se quem é chamado de "coroa", mas a mesma pessoa pode sentir-se orgulhosa quando o adjetivo escolhido é "animal".

Recentemente, pudemos ler a seguinte nota na revista "Veja": "Bruna Lombardi estrela a edição de março da revista "Vip" disposta a provar que uma cinquentona, com a genética e os ângulos certos, pode continuar a ser considerada mulher". O recado social é claro: depois dos 50, perde-se a humanidade e a cidadania. Se não admitimos envelhecer, faz sentido ignorar que é preciso ensinar crianças e jovens a respeitar os idosos, não é? Fazemos de conta que quem é velho já morreu e pronto.

Respeitar o velho -escondido até na denominação "terceira idade" ou "melhor idade"- não é apenas uma questão de bons modos. Respeitar o idoso é reverenciar a experiência de vida, o conhecimento, a sabedoria acumulada de quem viveu e aprendeu, de quem sofreu, de quem tem um passado e uma história, de quem colaborou com a construção desse mundo e de quem deu a vida a quem hoje é jovem. Respeitar o velho é preservar nossa memória, aceitar o futuro e reconhecer o passado. Mas parece que o que vale hoje é o presente: viver o aqui e o agora é imperativo. Vivendo assim, como será o amanhã?

Temos um problema: a população brasileira envelhece, e os dados do censo são prova disso. Que contradição é essa que nos faz cegos a essa realidade? Ensinar e estimular crianças e jovens a conviver com os velhos pode ser positivo para ambos: aos mais novos, para que aprendam sobre a vida e a importância dos vínculos afetivos e dos compromisso assumidos, e aos mais velhos, para que ganhem um sopro de alegria, de entusiasmo, de esperança.

Uma amiga contou que, no supermercado, observou uma cena interessante. Uma velha senhora fazia suas compras acompanhada da neta de mais ou menos 12 anos, que, consciente da importância de seu papel, desempenhava-o de modo exemplar. Apontava o que a avó precisava, perguntava as preferências dela, dirigia o carrinho, fazia tudo o que fosse necessário para poupar a avó o mais que pudesse. De tão inusitada, a cena chamou a atenção de outra mulher que não se conteve e disse: "Muito bem, ajudando a avó a fazer compras; meus parabéns!".

O lugar destinado ao velho em nossa sociedade se expressa na educação que damos a filhos e alunos. Temos, no mínimo, um motivo bem egoísta para ter mais cuidado com essa questão: vamos envelhecer. E nossos filhos também. Por incrível que pareça.

ROSELY SAYÃO– Folha de São Paulo, caderno Equilíbrio, 27/3/2003.



Couro de Boi

Palmeira e Teddy Vieira

Gravação de Luizinho, Limeira

e Zezinha

Conheço um velho ditado

Que é do tempo do zagais

Diz que um pai trata dez filhos

Mas dez filhos não trata um pai

Sentindo o peso dos anos

Sem podê mais trabalhar

O velho peão estradeiro

Com o seu filho foi morá

E o rapais era casado

E a mulher deu de implicar

Você mande o velho embora

Se não quiser que eu vá

E o rapais coração duro

Com o velhinho foi fala.

Para o senhor se mudar

Meu pai eu vim lhe pedir

Hoje aqui da minha casa

O senhor tem que sair

Leva este couro de boi


Que eu acabei de curtir

P'ra lhe servir de coberta

Aonde o senhor dormir.

O pobre velho calado

Pegou o couro e saiu

Seu neto de oito anos

Que aquela cena assistiu

Correu atrás do avô

Seu palitó sacudiu

Metade daquele couro

Chorando ele pediu.

O velhinho comovido

P'ra não ver o neto chorando

Partiu o coro no meio

E ao netinho foi lhe dando

O menino chegou em casa

Seu pai foi lhe perguntando

P'ra que você qué esse couro

Que seu avô ia levando.

E o menino respondeu

Um dia vou me casar

O senhor vai ficar velho

E comigo vem mora

Pode ser que aconteça

De nóis não se combinar



Esta metade de couro

Vou dar pro senhor levar.

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